terça-feira, 20 de dezembro de 2011

História da Igreja – Parte 1 – Com Sal ou Sem Sal?


Por: Christopher Walker
Raízes – Lições da História da Igreja Para os Nossos Dias.
É um principio indiscutível que para se descobrir o propósito da existência de um indivíduo, entidade, nação ou até mesmo de toda a humanidade, é preciso começar analisando a sua história, suas raízes. Não é diferente em relação à Igreja, que na verdade é o conjunto de pessoas que atenderam ao chamado de Deus para saírem para fora de um mundo cada vez mais à deriva no caos e degeneração resultantes do pecado, a fim de reencontrar através da obra redentora de Jesus o caminho de volta ao propósito original de Deus para a humanidade e para toda a criação.
É nosso objetivo através destas crônicas sobre épocas passadas da história da Igreja descobrir algumas das nossas raízes, e compreender melhor a razão da nossa existência.
Com Sal ou Sem Sal?
O que você sabe a respeito da igreja dos primeiros séculos?
Se você já leu o livro de Atos dos Apóstolos, sabe que era uma igreja unida, despreocupada com estruturas, prédios, organizações, títulos, cursos, e tantas outras coisas sem as quais hoje não saberíamos fazer nada.
Aquele grupo de cento e vinte pessoas que acreditaram na promessa do homem que fora crucificado, que ressuscitara e que fora embora para o céu à vista de alguns deles, ficou esperando dentro de um cenáculo durante dez longos dias e recebeu o Espírito Santo exatamente como Jesus prometera. A partir deste momento, e deste cantinho desprezado do Império Romano, este bando de pessoas incultas que já não contava com o seu poderoso líder carismático, começou sua trajetória triunfante, espalhando-se por todo o Império e além dele, e chegando a representar no ano 300, segundo estimativas, de 5 a 10% da população do mundo civilizado.
Em muitas regiões, o cristianismo penetrou em todas as cama das da sociedade. Embora tivesse começado com pessoas humildes e incultas, a fé cristã atingiu todos os níveis sociais, e seus seguidores não puderam ser ignorados. Sobreviveram a diversas ondas de perseguição e oposição, e continuaram a avançar apesar de não contar com campanhas publicitárias, ou mesmo com qualquer estratégia evangelística explícita. Sua força pode ser avaliada pela ameaça que representou para os poderosos imperadores romanos, e que desencadeou as grandes ondas de perseguição.
Por que os cristãos dos primeiros dois séculos causavam tanta oposição e reações contrárias no mundo em que viviam?
As primeiras perseguições que estão registradas no livro de Atos foram causadas pelos judeus religiosos que não reconheciam em Jesus o cumprimento de todas as profecias e promessasdas suas próprias Escrituras, e que se sentiam ameaçados e condenados pela realidade e autenticidade destes que proclamavam o cumprimento atual de todos os sím bolos, rituais e sombras da Velha Dispensação.
Mas por que os romanos, gregos e outros gentios também se levantavam contra este novo caminho?
Os romanos, que em geral eram tolerantes de outras religiões, contanto que as pessoas observassem os ritos e práticas que implicavam em submissão ao imperador romano. E era aí mesmo que estava uma das principais acusações contra os cristãos — sua teimosia e falta de respeito para com a autoridade romana.
Plínio, o Jovem, um oficial romano que foi enviado no ano 110 para governar a província de Bitínia (atual Turquia), foi quem deixou nos seus escritos um dos relatos pagãos mais antigos sobre os cristãos.
Na sua primeira experiência de interrogar os cristãos ali, como não sabia o que fazer ou como tratá-los, resolveu escrever para o imperador Trajano, pedindo conselho. “Não sei de que crime são culpados, ou o que preciso investigar ou castigar”, ele escreveu. Disse que estava incerto se quem admitiu ser cristão já era merecedor de castigo, ou se precisava ser acusado de outro crime também.
Mas enquanto isso, perguntou aos acusados se eram cristãos. Quando alguns confessaram que eram, ele perguntou uma segunda e depois uma terceira vez. Quando confirmavam, mesmo diante da ameaça de castigo, Plínio ordenou que fossem condenados. “Pois não tinha dúvidas de que, fosse o que fosse que estavam admitindo, a obstinação e perversa inflexibilidade deveriam ser castigados.”
Para ele, esta atitude cristã era uma espécie de insanidade contagiosa ou desordem mental que resultaria inevitavelmente em crimes contra o Estado romano. No final da sua carta, disse: “Esta superstição contagiosa não se confina nas cidades apenas, mas já espalhou sua infecção para as aldeias do campo.” Trajano posteriormente recomendou Plínio pela atitude tomada.
Era assim, aparentemente, que os romanos consideravam os cristãos: como um grupo seguidor de superstição perigosa. Nas palavras de Seutônio (escritor romano e secretário do imperador Adriano) e que foi um dos primeiros escritores pagãos a mencionar os cristãos, estes eram “uma classe de pessoas dadas a uma nova e perniciosa superstição.” Um outro historiador romano, Tácito, reconheceu que Nero inventou as acusações de que os cristãos haviam iniciado o incêndio de Roma, mas demonstrou pouca simpatia por este povo “notoriamente depravado”.
“O fundador deles, Cristo, fora executado no reinado de Tibério pelo governador da Judéia, Pôncio Pilatos,” ele escreveu. “Mas apesar da derrota temporária, esta superstição mortal espalhou-se não somente por toda a Judéia (onde este mal nasceu), mas até mesmo em Roma. Toda espécie de práticas depravadas e vergonhosas se ajuntam e prosperam na capital.”
O que os romanos entendiam por superstição? De acordo com diversos autores romanos proeminentes, incluindo Cícero e Plutarco, era qualquer crença ou prática religiosa e ofensiva, que desviava das normas romanas. Os grupos que tinham estas religiões “irracionais” poderiam agir imprevisivelmente, sem consideração pelos ritos e tradições de Roma. Na verdade, eram exatamente as suspeitas políticas, e não necessariamente as religiosas, que preocupavam as elites romanas. Se qualquer devoto religioso continuasse a observar os ritos romanos, poderia adorar o deus que quisesse.
Os cristãos não reconheciam nenhum outro deus a não ser o Deus deles. Isto já era mal, mas também se recusavam a participar em qualquer rito religioso não cristão, a servir no exército, ou a participar de cargos políticos. Era uma recusa a comer carne durante um rito religioso romano que levou Plínio, o Jovem, a julgar aqueles cristãos em Bitínia.
Além disso, espalhavam outras idéias fantásticas sobre os cristãos, como por exemplo que eram canibais e praticavam incesto. Como o cristianismo nasceu sob perseguição, as suas práticas mais sagradas não eram abertas a não cristãos, o que favorecia as deturpações de quem não tinha qualquer contato de primeira mão. Desta forma, o ósculo santo entre “irmãos” (Rm 16.16) talvez tenha sido interpretado como relacionamento incestuoso, e a ceia onde Jesus disse para comer sua carne e beber seu sangue poderia ser entendido como algo literal.
Os cristãos também eram acusados de adorarem cabeças de jumentas, de praticarem orgias sexuais, e de serem mágicos e feiticeiros (talvez por causa dos milagres de cura, da expulsão de demônios, e da cerimônia do batismo). Estas acusações que nem sempre foram levadas ao tribunal tinham o efeito de colocar a população e principalmente as elites contra os cristãos, mas em diversos períodos durante os primeiros séculos causou ondas de perseguição por colocar o cristianismo como inimigo do Império.
Numa época da história em que (no mundo ocidental) a Igreja conquista cada vez mais reconhecimento e espaço na cultura, na política e na sociedade secular, vale a pena voltar para nossas raízes e ver como a primeira igreja obteve suas primeiras vitórias e chegou a ser uma força influente no mundo daquela época. Onde está a verdadeira força da Igreja — na presença ameaçadora de um povo não alinhado e até mal interpretado, ou daqueles que se esforçam ao máximo para se assemelharem à sociedade e cultura em que vivem?
Onde está o sal da terra?
No próximo número: Como o sofrimento dos cristãos primitivos afetava o mundo em que viviam.
Fonte de pesquisa: Christian History Magazine, Issue 57,1998, da Christianity Today, Inc.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Pecado ou Problema?

Por: Robert Louis Cole

“Cria em mim, ó Deus, um coração puro, e renova dentro em mim um espírito inabalável.” (Sl 51.10)

“Tenho um problema”, disse a jovem senhora, um pouco envergonhada. Era o fechamento de uma reunião de oração no horário de almoço, promovida por um grande ministério na Costa Leste. Eu acabara de concluir um breve estudo bíblico e de encerrar a reunião, quando fui puxado de lado para uma oração particular.

- Qual é o problema? – perguntei.

- Eu tenho um problema – repetia ela.

- Sim. – Respondi, pensando se ela havia me escutado direito.

- Em que exatamente podemos concordar em oração?

Sua face se contraiu e lágrimas brotaram de seus olhos. – Não sei exatamente – desabafou, mordendo os lábios -, mas tenho um problema sério.

Tentei ser firme sem ser duro demais.

- Nosso Deus é um Deus de coisas específicas, não de generalidades – disse-lhe. – ficaria feliz em orar com você, mas preciso saber a natureza de seu problema de modo a orar especificamente. Ninguém mais saberá, apenas eu e você.

- Bom, na verdade, não sei qual é o meu problema – respondeu ela, como se estivesse bloqueada -, mas meu marido diz que eu tenho um problema -. Tentei novamente.

- O que seu marido diz ser o seu problema?

- Ele diz que eu não o entendo – disse ela, finalmente, agonizando a cada palavra.

- O que você não entende? – perguntei. De repente, a mulher começou a chorar convulsivamente, profundamente magoada.

- Meu marido deixa revistas ao lado de nossa cama – ela explicou, em meio a soluços. – Playboy e Penthouse, além de todas aquelas outras revistas de mulheres nuas. Ele diz que precisa primeiro olhar aquelas revistas para depois ter sexo comigo. Diz que precisa delas para se sentir estimulado.

Ela prolongou a última sentença, com lágrimas rolando por sua face.

- Já lhe disse que não precisava daquelas revistas, mas ele diz que eu não o entendo. Diz que, se eu realmente o amasse, eu entenderia por que ele precisa das revistas e, então, permitiria que ele tivesse mais revistas ainda.

- Qual a ocupação de seu marido? – perguntei eu.

- Ele é pastor de jovens.

Fiquei ali, boquiaberto, pensando no que acabara de ouvir. Estava ouvindo uma mulher me dizer que seu marido era um pastor de jovens que mantinha uma pilha de material pornográfico ao lado da cama!

- Seu marido pode ser um pastor de jovens, – disse-lhe -, mas também é um pornógrafo.

A cabeça da mulher se levantou em atenção. Foi como se eu a tivesse esmurrado diretamente no rosto. Ela jamais imaginou ouvir seu marido sendo descrito como alguém que gostava de pornografia, apesar de seu estilo de vida tê-lo transformado exatamente nisso.

Nestes tempos modernos nós não temos pecado: temos problemas. Transformamos o Evangelho em algo psicológico e, no meio do processo, eliminamos a palavra pecado de nosso vocabulário.

Mas eu tenho necessidades

Uma mulher veio a mim trazendo uma triste história. Seu marido a maltratou durante anos e, finalmente, a deixou, através de um divórcio litigioso. Membro de igreja, cristã confessa há vários anos, ela se viu só e desamparada.

Reagindo a seus sentimentos, ela saiu da cidade e passou um final de semana com um homem. Como ela mesma descreveu, ela possuía “necessidades biológicas”.

- Você tem consciência do que fez? – perguntei-lhe tão logo sentou-se em meu gabinete. A mulher foi pega de surpresa e colocou-se para trás.

- Por que, do que você está falando?

Seus olhos se arregalaram e sua face enrubesceu. Ofendeu-se por eu tê-la chamado de adúltera. Afinal, depois de ter cometido um adultério, ela era uma adúltera.

Para ela, aquilo não foi um pecado – apenas um problema, como disse.

Não falamos sobre pecado nos dias de hoje: falamos sobre problemas. A razão pela qual problemas são mais convenientes que pecados é que não precisamos fazer nada com os problemas. Se você apenas tem um problema, consegue simpatia, compreensão e ajuda profissional, somente para citar algumas coisas. Por outro lado, pecados requerem arrependimento, confissão e perdão.

Não é de estranhar que Freud queria se livrar da palavra pecado.

Resolvendo problemas biblicamente

No processo de reescrever a linguagem bíblica, fugimos da confrontação com nossos pecados. Mas, sem os enfrentar não fazemos nada com relação a eles. Todos os problemas da vida estão de algum modo relacionados ao pecado. Esta é a razão por que o homem precisa de um Salvador que o livre dos pecados como resposta a seus problemas. Deus sabia disso. Foi por isso que Jesus Cristo veio aqui para morrer por nossos pecados e ser a resposta para todos os nossos problemas.

A disciplina da igreja em nossos dias é relaxada, fraca ou inexistente. O apóstolo Paulo exigia disciplina. Se alguém se diz irmão – disse Paulo – e mantém um estilo de vida ou um padrão habitual de pecado, não mantenha amizade com ele – nem mesmo coma com ele. Sem relacionamentos.

“Mas agora vos escrevo que não vos associeis com alguém que, dizendo-se irmão, for impuro, ou avarento, ou idólatra, ou maldizente, ou beberrão, ou roubador; com esse tal nem ainda comais” (1 Co 5.11).

Ao contrário do que você ou qualquer outra pessoa possa pensar, este é um ato de amor e não de ódio.

Veja, os caminhos de Deus são tão altos quanto os céus estão acima da terra.

Paulo tinha a mente do Senhor quando escreveu estas palavras. Se uma pessoa que chama a si mesma de cristã continua em seu pecado sem punição e com todos os privilégios de outros membros, não terá nenhum incentivo para confrontar, confessar e afastar-se de seu pecado, além de contar com a aceitação de outros crentes.

Normalmente a pessoa que cometeu pecado admite que houve um problema, ou que ela simplesmente é uma desafortunada, mas vai chorar e reclamar quando se confrontar com a disciplina.

O lamento humano ocorre somente quando ficamos tristes por termos sido pegos. O lamento piedoso acontece no momento em que nos entristecemos pelo pecado que cometemos e quando queremos nos livrar dele.

Se Paulo vivesse em nossos dias, estaria condenando os humanistas seculares do tímido século XX, sitiando as fortalezas do pensamento moderno que têm tomado conta de nossa mente e nos cegado quanto à verdade. Realmente existem espíritos sedutores e doutrinas de demônios. Vemos tudo isso trabalhando em nosso mundo hoje. Somos levados a pensar que temos problemas em vez de pecado. Nossas doutrinas modernas, baseadas em vidas destituídas da vida de Deus, nos dizem: “Está tudo bem comigo e com você”, em vez de dizer: “Todos pecaram e carecem da glória de Deus…”.

Disciplina em ação

Fui tomar café com um pastor que estava cercado de problemas. Ele quase havia perdido sua igreja.

Os membros do coral sabiam, havia bastante tempo, que o ministro de música cometera atos de homossexualismo. Ele se envolveu a ponto de isto se tornar público.

Por muito tempo, ninguém disse nenhuma palavra sequer. Estavam todos esperando que alguma coisa acontecesse e uma mudança ocorresse. Por fim, o segredo vazou e chegou até ao pastor. Depois de muita oração e de uma busca diligente da verdade, chegou o momento em que o pastor e o ministro de música se encontraram para confrontar a questão. O ministro de música admitiu tudo.

- Você precisa decidir entre duas coisas – disse-lhe o pastor, de modo direto. – Deve arrepender-se ou renunciar. O ministro de música considerou as hipóteses e tomou sua decisão de modo muito bem pensado: não faria nem uma coisa nem outra. Em vez disso, começou a buscar apoio, primeiramente entre os membros do coro e, depois, entre a congregação.

Em pouco tempo, uma comissão de membros do coro pediu uma reunião com o pastor.

- Você não entende – disse o porta-voz. – Ele simplesmente tem um problema. Se nós o cercarmos de amor e compreensão, isto vai ajudá-lo e ele vai se livrar do problema.

- Sou eu quem não entende? – retrucou o pastor. – Se vocês o cercarem com amor e compreensão e se ele não tiver de se arrepender de seu pecado, então ele nunca conseguirá se livrar do problema.

As linhas de batalha estavam formadas. A comissão se espalhou pela igreja, ateando mais fogo ainda, arregimentando mais pessoas para ficarem contra o pastor piedoso a quem eles acusavam de não ser amoroso. O burburinho cresceu. Houve uma reunião tumultuada e, por intervenção divina, o pastor piedoso permaneceu.

O ministro de música saiu, levando consigo muitos simpatizantes. A igreja passou por momentos difíceis, mas Deus confirmou a posição piedosa daquele pastor. Hoje, a igreja está mais forte do que nos dias anteriores à crise. O próprio pastor é um homem mais forte.

Sabedoria humana versus sabedoria divina

A sabedoria humana debocha da verdade do Evangelho.

A diferença entre a sabedoria humana e a divina, especificamente com relação ao pecado, é que a sabedoria humana deseja encobri-lo. Adão tentou fazer isso no jardim. Primeiro, de modo simbólico, ao cobrir sua nudez. Depois, foi muito além disso, à medida que começou o processo de autojustificação, colocando a culpa de sua falta em Eva, de modo a encobrir seu próprio pecado.

Cubra-se – culpe outra pessoa.

Esta sabedoria falha continua a operar nos dias de hoje. O escândalo de Watergate tornou-se o clássico exemplo moderno de como acobertar alguma coisa. O enfraquecido mas resoluto pastor recusou-se a permitir que a sabedoria humana e o sentimentalismo se colocassem no caminho da justiça divina. Ele não permitiria que um pecado fosse encoberto e chamado de “um problema”.

A psicologia comportamental não tem nenhum livro-texto que seja adequado para lidar com o escopo do dilema humano. Deus escreveu o Livro sobre salvação dos pecados muito antes de a psicologia aparecer com a idéia de “resolução de problemas”.

Deus ordena obediência à sua palavra. Ele não admite coisas da moda quando estas violam a soberania de sua Palavra. Nossa atitude de não intervir não é simpática a Deus: é abominação a ele; e ele nos ordena – não nos convida, mas ordena – o arrependimento e a obediência.

A distância entre a sabedoria divina e a humana é astronomicamente grande. Em nossa sabedoria carnal reordenamos nosso sistema de valores de acordo com nossos desejos. O homem olha para sua tecnologia espacial, seus ternos Armani, um exemplar da Time e pensa que é sábio. Ele aprende e ensina uma filosofia que somente traz perguntas e nenhuma resposta. Associa-se a uma ciência que zomba da criação bíblica, ainda que não seja capaz de oferecer nada em troca, a não ser uma teoria sem comprovação sobre aquilo que ela crê ser a evolução.

“Quem entre vós é sábio e entendido?” é o que Tiago 3:13 nos pergunta incisivamente. O versículo seguinte continua: “Se, pelo contrário, tendes em vosso coração inveja amargurada e sentimento faccioso, nem vos glorieis disso, nem mintais contra a verdade”. Nosso mundo atormentado cheio de inveja, amargura e problemas – é o produto de nossa própria sabedoria mundana.

A sabedoria humana ensinou uma geração de líderes a crer que quanto maior o endividamento melhor será sua economia – uma filosofia que levou vários países à beira da ruína econômica. O sofisticado espírito da era moderna, baseado na sabedoria humana, traz discórdia, dor e, por fim, ruína.

É verdade que, desde o Éden, o homem não melhorou sua natureza. Ele pode ter mais conhecimento técnico, mas sua natureza continua a mesma. Dizer que a humanidade melhorou por causa da excelência técnica do homem é como dizer que um canibal está melhor porque usa garfo e faca.

“A sabedoria, porém, lá do alto”, conclui Tiago no versículo 17 do mesmo capitulo, “é, primeiramente, pura; depois, pacífica, indulgente, tratável, plena de misericórdia e de bons frutos, imparcial, sem fingimento”. Isto é sabedoria divina.

A sabedoria humana que nos manda sair para fazermos nossas coisas não é a sabedoria que vai nos levar à terra de Canaã. Você jamais poderá maximizar seu potencial até que tenha recebido a sabedoria de Deus.

Chame as coisas pelo nome

Os namorados que vivem juntos longe dos laços do matrimônio são fornicadores.

O adolescente desbocado é um zombador.

Deus não tem prazer em devaneios semânticos: ele fala a língua dos homens. As Escrituras colocam os pingos nos “is”: pecado é pecado.

Não haverá respostas inesperadas quando a “pessoa com problemas” se confrontar com uma eternidade sem Cristo. Os pecados serão Ievados a sério naquele momento – ainda que seja tarde demais. A “síndrome da Playboy” ou “necessidades biológicas”, assim como os “problemas” homossexuais não mais existirão.

Precisamos começar a enfrentar o pecado como homens.

Extraído do livro “Vitória sobre a Tentação”, Editora Mundo Cristão.

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

A volta da igreja pródiga

Por: Maurício Bronzatto

A Parábola do Filho Pródigo tem uma universalidade impressionante. Poucas histórias bíblicas são tão conhecidas quanto esta. Mesmo nos domínios estrangeiros à religião, não é difícil surpreender pessoas tomando como ilustração para alguma fala, opinião ou comentário o relato do filho arrependido que retorna à casa do pai e é graciosamente acolhido. Entre as muitas explicações que poderíamos recolher para o fato de a história bíblica ser tão recorrentemente recuperada no cotidiano, fico com a aspiração imorredoura da humanidade por se encontrar num ambiente cercado de afetos, capaz de lhe conferir a sensação peculiar de pertencimento e a convicção insuperável de segurança que só experimentam os que se sentem em casa. Que satisfação poderia ser maior do que esta?

O tema é tão prestigiado que encontra ressonância em muitas manifestações artísticas, fazendo convergir para um ponto comum os anseios profundos de todos aqueles que se reconhecem como não estando no lugar certo. Para ficar em dois exemplos, podemos, em primeiro lugar, lembrar do filme “Cidadão Kane”, em que o protagonista, no fim da vida, pronuncia uma palavra indecifrável para os que estão ao seu redor, cujo significado estava ligado a um brinquedo de seu tempo de criança. Depois de ter conquistado o mundo todo, o sucesso não foi suficiente para lhe garantir a paz característica dos que se sentem em casa. Para este personagem a única referência de casa era aquela que sua infância lhe proporcionara. Tendo se desviado desse lugar seguro e nunca mais para lá tornado, faltava-lhe sentido existencial, vazio que se acentuou quando o tema da morte passou a assombrá-lo. Um segundo exemplo retiramos dos versos do poeta contemporâneo Cacaso, em que parafraseia a conhecida “Canção do Exílio”, de Gonçalves Dias (“Minha terra tem palmeiras onde canta o sabiá…”). Escreve Cacaso: “Minha pátria é minha infância / Por isso vivo sempre no exílio”). Poucas linhas dizem tanto acerca da nostalgia em relação a um tempo assumido como melhor, quase mítico, localizado em algum lugar do passado. O anseio, no entanto, é o mesmo: a crescente insatisfação do homem quando intui, no mais íntimo, que não se acha no lugar devido.

Hoje podemos revisitar a parábola bíblica em questão e reconhecer dois pródigos: o filho que deixa a casa e aquele que se perdeu dentro dela. Um e outro, o esbanjador e o amargurado, precisam recuperar sua filiação. E é somente a recepção amorosa do pai que pode oferecer o ambiente para tal transformação. Aliás, o grande pródigo da parábola é o pai. Ninguém gastou mais do que ele nesta história. Ele esbanja compaixão, cuidado, perdão, investimento paternal de toda sorte. Tenho pensado nesta cena narrada por Jesus como contendo razões para se viver uma vida inteira. Alguém já disse que todo o Evangelho está contido ali.

Se é assim, no abraço e ambiente ofertados pelo pai aos filhos que voltam podemos também antever o retorno da igreja ao lugar de onde nunca deveria ter partido. Se considerarmos que a igreja um dia já teve como centro o colo de Jesus, os ensinamentos vivos do mestre e toda a riqueza da demonstração de sua comunhão com o Pai, que embevecia um grupo familiar de judeus do primeiro século, o ambiente que sucedeu a este tomou caminhos bem diferentes. Que abismo entre o original e outros ambientes aos quais tem sido inadvertidamente dado o nome de igreja ao longo dos tempos! Da intimidade com Jesus e seu Espírito, rapidamente a igreja se deslocou para um endereço. Tendo começado de forma familiar e feito muitas famílias-discípulas, não demorou a trocar a relação pela reunião, a intimidade e a partilha pelo evento. Não nos estranha o fato de que lares, inicialmente, casas-endereço em seguida, passaram logo a ser assumidos como igrejas. O resultado não poderia ser outro: a família foi desalojada e deu gradativamente lugar a um funcionamento eclesiástico. A consequência foi o aparecimento dos templos, das catedrais, das instituições e impérios religiosos. Tudo muito diferente do colo e da companhia de Jesus. A vida simples e cotidiana, na qual os sinais do Reino se evidenciavam, foi substituída por cerimônias e rituais. Estilizou-se a vida, e os vínculos no Espírito Santo cederam lugar à organização.

Entretanto, com a graça de Deus, a igreja pródiga está retornando. Se lembrarmos que a partida foi um distanciamento gradativo que deixou o colo de Jesus, depois a família, em seguida as casas e foi parar no templo e em todas as suas decorrências institucionais, o caminho de volta deverá ser percorrido de forma inversa. Em primeiro lugar, as divisas das estruturas precisam cair; a seguir, a cultura do templo; posteriormente, a volta às casas será a consequência natural de quem passa a ver pouco sentido no ambiente anterior. Mas a casa não é a pousada definitiva. Igreja nas casas faz parte da transição – não da permanência – que pretende devolver a igreja à família, e esta à intimidade estreita com Jesus.

Já conseguimos ouvir o barulho dos preparativos da festa para a igreja que estava morta e reviveu, que tinha se perdido e foi encontrada? Bem, isso vai depender do ponto do retorno em que nos encontramos.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

A Igreja… Sua Natureza

Por: John MacLauchlan

Se temos algum entendimento da natureza da Palavra de Deus e da igreja, não será uma surpresa ouvir a afirmação de que as duas são intrinsecamente ligadas. Na verdade Jesus é o Verbo de Deus, e a igreja é o seu corpo. Conseqüentemente, temos que entender o que Jesus é para saber o que a igreja é. E se Jesus é o Verbo, isto significa que devemos entender melhor o que é o Verbo para entender a igreja.

O Verbo, ou a Palavra, é a vontade de Deus expressa ao homem, mas mais do que isto, encarnada no homem. Jesus, além de ser a Palavra expressa de forma mais completa e total do que em qualquer manifestação anterior no Velho Testamento, era a Palavra habitando e vivendo plenamente numa pessoa humana. Da mesma maneira, foi a Palavra de Deus que trouxe à existência um povo, encarnando-se outra vez, e criando a igreja na mesma imagem daquele que era a Palavra de forma singular. Assim, a Palavra de Deus torna-se a igreja, e a igreja não é igreja sem esta Palavra.

Vejamos como isto se revela no Novo Testamento. Quando Paulo chamou os tessalonicenses a orar “para que a palavra do Senhor se propague e seja glorificada”, ele certamente não estava pensando na proliferação de idéias ou doutrinas. Pelo contrário, estava consciente de que estava se dirigindo àqueles que eram o resultado visível desta Palavra. Eram a palavra encarnada; sua expressão concreta. Paulo lhes falara a palavra vivificante de Deus e foram regenerados. Falou a palavra diretiva e construtiva de Deus e foram moldados num povo para Deus. Isto acontecera inacreditavelmente rápido em Tessalônica. Paulo agora exortava a orar por triunfo semelhante e resultados imediatos em outros lugares.

A Palavra e a Igreja são Uma

Claramente para Paulo, a igreja se origina da Palavra de Deus. Se a Palavra é a auto-expressão de Deus, a igreja também o é. Através dela, Deus fala aos homens. Podemos ver esta mesma ligação em outros lugares. “A igreja, na verdade, tinha paz por toda a Judéia, Galiléia, e Samaria, edificando-se e caminhando no temor do Senhor e, no conforto do Espírito Santo, crescia em número” (At 9.31). Compare isto com Atos 6.7: “Crescia a palavra de Deus e… se multiplicava o número dos discípulos…”

Em outro lugar é simplesmente: ” … a palavra de Deus crescia e se multiplicava” (At 12.24), e em ainda outro: “… a palavra de Deus crescia e prevalecia…” (At 19.20). O crescimento da igreja é atribuído à Palavra. A Palavra e a igreja são uma. Estas passagens falam sobre o desenvolvimento e crescimento da auto-expressão de Deus na terra. Mais e mais, ele tem um povo em quem pode viver e através de quem pode revelar como ele é.

A implicação é clara. A igreja é totalmente dependente da palavra profética. Sem esta palavra, ela cessa de ser a igreja do Deus vivo. Separar a Palavra da igreja é o mesmo que retirar o espírito do homem: resta apenas um cadáver.

O pico culminante da auto-expressão de Deus é Jesus. Ele encarnou e revelou perfeitamente tudo que Deus é. Nele o Deus invisível é visto pelos homens. Mas Paulo chama a igreja “corpo” de Jesus, o que seria sua auto-expressão. Em Efésios 1.23, vai mais além, e a descreve como a “plenitude” de Jesus, um termo usado no grego para o carregamento de um navio, ou o conteúdo total de uma embarcação. A igreja contém, encarna, e é plena de Cristo.

Nisto tudo, Paulo não está se referindo ao tempo em que Jesus andou na terra em um corpo mortal. Antes, descreve-o exaltado e supremo sobre todos os seus inimigos, enchendo o universo com sua grandeza. A igreja é a encarnação e expressão na terra do Rei dos reis. É a “plenitude daquele que a tudo enche em todas as coisas” (Ef 1.23).

Jesus é a Palavra de Deus. A igreja o encarna e expressa. A Palavra triunfante de Deus, exaltada e glorificada, vive em seu povo. Este povo não é chamado à existência para exemplificar uma cópia religiosa de Cristo. São criados como aqueles em quem ele vive. São seus filhos e filhas. São a expressão de Deus na terra.

Não Existe uma “Planta” Para a Igreja

Deus se recusa a ser limitado pelo homem. Não será restringido pelas limitações de conhecimento ou teologia humanos. Não será condescendente com as exigências do intelecto humano. Reserva a si mesmo a liberdade pessoal que é legítima somente para quem é supremo.

Questionado sobre sua definição de si mesmo, respondeu: “Eu sou o que sou”.

Conclui-se que um povo designado a expressá-lo não pode ser limitado a uma forma preestabelecida ou desenvolver-se segundo as linhas de uma planta predeterminada. Não pode haver um “padrão” para a igreja. Um corpo estruturado de acordo com algum padrão ou restrito àquilo que surgiu daquilo que se chama ortodoxia histórica, será meramente uma instituição religiosa humana. Não importa como os homens queiram chamá-la, não pode ser a igreja do Deus vivo.

O conceito de igreja como uma instituição que se autoperpetua é apavorante. Capaz em si mesma de se manter e existir como organização, porém destituída da presença de Deus, torna-se inimiga de todos os propósitos de Deus. Torna-se naquele cadáver mencionado acima, um corpo sem o fôlego de vida. Mas a qualidade de absurdo ou grotesco desta figura se transforma em algo verdadeiramente horripilante, pois este cadáver ainda anda, locomove-se, e fala. Ilude os homens a pensar que ainda representa Deus. Na verdade, grotescamente deturpa sua imagem.

O que, então, podemos dizer da igreja? Somente isto, que como auto-expressão de Deus, “ela é o que é”. Ou talvez o melhor seria dizer: “ela é o que Deus é”. A igreja é totalmente vinculada a Deus. Sem o seu fôlego, morre. É quando Deus fala que a igreja toma sua forma e semelhança. É pela Palavra de Deus que ela se torna o que ele é. E isto é um processo contínuo: Deus falando, e a igreja ouvindo e correspondendo. É somente desta maneira que a igreja pode ser o que Deus quer que ela seja, e cumprir sua vontade na terra.

Jesus concede temível autoridade à igreja. A partir da sua ênfase no direito e dever da igreja de tratar com o pecado no meio dela, ele mostra que a igreja tem todo poder no céu e na terra. Para exercer tal poder, ela somente precisa “concordar” e “pedir”. E pode ser até com dois crentes que se unam desta maneira. Mas a base crucial de tudo isto é ter dois ou três que reúnam em Jesus. A ênfase está em Deus reunir o povo, e o propósito de tal reunião é entrar na pessoa de Jesus.

Somente este chamamento e mover divinos trarão a promessa de Jesus estar no nosso meio. E como vimos, tal ação divina inevitavelmente relaciona-se com sua Palavra. É quando ele fala que vemos Jesus. É através de sua voz que somos chamados. É através de sua Palavra que somos comissionados e atraídos à experiência de seu Filho. É em relacionamento vivo com Jesus que temos sua autoridade para desligar e ligar. A igreja existe para entrar em Jesus, e isso acontece pela Palavra viva procedente de Deus.

Prédio ou Pessoas?

Muitas vezes se tem dito que a igreja não é um prédio, mas são as pessoas. Sugiro que esta declaração seja verdadeira, porém inadequada. Verdadeira, porque tira nossa atenção dos tijolos e argamassa, e a dirige para a verdadeira casa de Deus, constituída de homens e mulheres. Mas inadequada, porque podemos ver a igreja como pessoas e mesmo assim ter uma instituição. Talvez, para nós, as pessoas que constituem “a igreja” devam concordar com um credo específico. Talvez devam praticar certas coisas, ou ter determinada estrutura e liderança. Talvez devam reunir-se de maneira específica.

Se esta é nossa visão de igreja, podemos dizer o quanto quisermos que ela consiste de pessoas e não de prédios, mas ainda assim temos um conceito institucional. Nossa visão é sectária; divide-se na base de assentimento a um determinado conjunto de credos ou práticas. Alguns tentam responder à questão acima com uma definição geral como: “A igreja consiste de todos os regenerados”, mas na prática só aceitam pessoas em uma das bases citadas acima, e acabam sendo sectários da mesma forma.

Devemos ver a igreja como um povo em correspondência ativa e atual ao Deus vivo. Sempre está ligada a um propósito, não a credos fixos, formas predeterminadas, ou modelos de culto prescritos. É a prática que é importante, não a teoria. Somente através de ouvir e praticar o que Deus está dizendo é que um povo pode representar seu nome. Tal povo é totalmente vinculado a Deus, sem segurança humana nem religiosa. Vivem pela palavra que sai da sua boca; morreriam sem isto. Não têm uma estrutura inflexível, ou que se autoperpetua. Podem ser descritos como povo profético, pois são completamente dependentes da palavra profética de Deus.

Extraído da Série: “Profetas e Profecia” nº 04.

sábado, 26 de novembro de 2011

• Igreja Gloriosa, Santa e Sem Defeito

Nada menos que isso é digno do nosso Pai Santo, cuja glória enche os céus e a terra.
Nada menos que isso é digno do nosso Salvador Santo, que derramou seu sangue para redimir-nos do pecado.
Nada menos que isso é digno do Santo Espírito, de quem somos templo.

Deus estava irado, e com muita razão. Menos de seis semanas antes, o povo recém-redimido lhe havia prometido fidelidade e afirmado a intenção de obedecer aos seus mandamentos. Agora, porém, haviam desprezado a graça divina, flagrantemente violando a primeira e mais fundamental de suas leis.

Só a intercessão fervorosa de Moisés, seu servo, deteve a mão de Deus e impediu-o de destruir a congregação inteira em um instante.

Com o afastamento de um juízo final e cataclísmico, Deus passou a dar instruções a Moisés para que ele pudesse conduzir o povo até a Terra Prometida. Prometeu-lhe que a nação seria sustentada por ele e protegida por ele. Um anjo seria destacado para mostrar o caminho. O próprio Deus, porém, não iria com eles, “para que te não consuma eu no caminho” (Êx 33.3).

Porém, mesmo com o misericordioso perdão de Deus e de sua graciosa oferta, Moisés não ficou satisfeito. Continuou insistindo: “Se a tua presença não vai comigo, não nos faças subir deste lugar” (v.15). Em outras palavras: “Deus, se tu não fores conosco, nós não vamos sair daqui!”

O líder desesperado prosseguiu em sua oração, explicando para Deus que a presença dele era a única coisa que pudesse separar seu povo de todos os outros que havia no mundo. Na ausência da presença de Deus, nada mais serviria para distingui-los de qualquer outra pessoa.

Por que a presença de Deus não poderia mais acompanhá-los? A explicação é simples: Deus é santo. Sua presença não pode coexistir com um povo que não é santo.

Foi por isso que, 40 anos mais tarde, quando o povo se preparava para entrar em Canaã, Moisés advertiu: “Porquanto o Senhor, teu Deus, anda no meio do teu acampamento...; portanto, o teu acampamento será santo, para que ele não veja em ti coisa indecente e se aparte de ti” (Dt 23.14).

O profeta Habacuque afirmou com reverência: “Não és tu desde a eternidade, ó Senhor, meu Deus, ó meu Santo? [...] Tu és tão puro de olhos, que não podes ver o mal e a opressão não podes contemplar” (Hc 1.12-13).
Os israelitas do Velho Testamento foram lembrados muitas vezes desse fato. No incidente do bezerro de ouro, mais de 3 mil pessoas perderam a vida por causa do pecado da nação (Êx 32.25-28). Por quê? Porque Deus é santo.

No caminho de Sinai para Cades-Barneia, o fogo de Deus consumiu muitos que o desagradaram com suas murmurações e reclamações (Nm 11.1-3). Por quê? Porque Deus é santo.

Pouco tempo depois, uma geração inteira foi condenada a morrer no deserto (Nm 14.26-35). Por que razão? Porque Deus é santo e não pôde ignorar seu pecado de incredulidade.

Quando 250 líderes da nação iniciaram uma revolta contra Moisés, a terra abriu sua boca e engoliu o cabeça do levante, enquanto os demais foram destruídos por fogo (Nm 16.1-35). Por quê? Porque Deus é santo.

Muitos anos depois, Deus revelou a Ezequiel por que era justo ele ter enviado a nação para o cativeiro. Numa visão, o homem de Deus foi transportado, não para o distrito de prostituição, não para as tabernas ou alguma sede do governo, mas para o templo em Jerusalém. Desde o átrio exterior até o Santíssimo Lugar, idolatria e sensualidade estavam por toda parte.

Deus disse para o profeta: “Filho do homem, vês o que eles estão fazendo? As grandes abominações que a casa de Israel faz aqui, para que me afaste do meu santuário?” (Ez 8.6).

Quando Deus proclamou juízo sobre a nação apóstata, ele disse aos que foram encarregados de executar a sentença: “... começai pelo meu santuário” (Ez 9.6).

Talvez, Pedro estivesse se lembrando dessas palavras quando escreveu à igreja no Novo Testamento: “Porque a ocasião de começar o juízo pela casa de Deus é chegada” (1 Pe 4.17).

Veja bem: Deus não está menos comprometido com santidade no Corpo de Cristo agora do que estava quando lidava com a nação de Israel. A palavra santo é usada nada menos do que 30 vezes no Velho Testamento, só para se referir ao tabernáculo em que a glória de Deus habitava. Cada peça dos móveis e utensílios teria de ser santa – purificada e consagrada para o uso de Deus. Os sacerdotes tinham de ser santos. Até suas roupas tinham de ser santas.

Quanto mais devemos nós ser santos, pois estamos sendo “juntamente... edificados para habitação de Deus no Espírito” (Ef 2.22). “Não sabeis que sois santuário de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós?” (1 Co 3.16).
Vamos considerar, resumidamente, cinco questões em relação ao nosso chamado para ser um templo santo para o Senhor.

Por que a Igreja deve ser santa?

Devemos ser santos porque somos a habitação de um Deus santo. Um templo que não é santo não é um lugar adequado para o nosso Deus.

Devemos ser santos porque fomos comprados e lavados por um Salvador santo. Não pertencemos a nós mesmos. Fomos comprados com o preço infinito do sangue e da vida dele.

Devemos ser santos porque fomos justificados com o objetivo de sermos santificados. Cristo “amou a igreja e a si mesmo se entregou por ela, para que a santificasse, tendo-a purificado por meio da lavagem de água pela palavra...” (Ef 5.25-26).

Ser santo é nossa vocação. O propósito de Deus para a Igreja não é que ela tenha miríades de programas, grandes orçamentos nem que seja capaz de fazer as pessoas se sentirem bem. Seu propósito é tornar-nos santos.
Devemos ser santos, porque somos a Noiva de Cristo. Paulo escreveu à igreja carnal em Corinto: “Porque zelo [sentido original: tenho ciúme] por vós com zelo de Deus; visto que vos tenho preparado para vos apresentar como virgem pura a um só esposo, que é Cristo” (2 Co 11.2).

Fomos comprometidos em casamento a um Cristo santo. Assim como o vestido branco da noiva representa a mulher que se guardou em castidade e pureza para seu noivo, nosso anseio é estar diante dele um dia vestidos de branco. Poder fazer isso nos trará incalculável alegria.

“Alegremo-nos, exultemos e demos-lhe a glória, porque são chegadas as bodas do Cordeiro, cuja esposa a si mesma já se ataviou, pois lhe foi dado vestir-se de linho finíssimo, resplandecente e puro. Porque o linho finíssimo são os atos de justiça dos santos” (Ap 19.7,8). Nossa castidade como Noiva, comprometida a ele aqui na Terra, é motivada por nossa expectativa da gloriosa consumação do nosso amor por ele na eternidade.

O que significa ser santo?

Ser uma Noiva santa significa ser puro em todo o nosso ser. Sem dúvida, inclui ser irrepreensível em todas as questões que são visíveis aos outros: na conduta, na conversa, no modo de se vestir, nos hábitos e no estilo de vida.

A santidade é bem mais profunda, porém, do que aquilo que pode ser avaliado pelos homens. A verdadeira santidade é produzida no coração do cristão, pelo Espírito Santo que habita nele. Significa ser puro no interior, onde somente Deus consegue ver. Significa ter somente atitudes, valores, pensamentos e motivações que sejam santos. Ser santo é ser como Jesus: “… santo, inculpável, sem mácula, separado dos pecadores” (Hb 7.26). É ser sem mácula, sem fingimento, sem qualquer espécie de falsidade ou engano.

Infelizmente, a Igreja tem se avaliado de acordo com os padrões do mundo e tem se contentado em ser “relativamente” santa. Em outras palavras, em comparação com a sociedade em geral, consideramos que estamos razoavelmente bem. Entretanto, não existe santidade “relativa”. Não dá para ter só um determinado grau de santidade. Ou a Igreja é santa ou está contaminada.

Paulo queria que os coríntios fossem diligentes e exaustivos na eliminação de todo o fermento da igreja. Nas Escrituras, fermento geralmente é uma figura de pecado, de algo que contamina. “Não sabeis que um pouco de fermento leveda a massa toda?” (1 Co 5.6). Não se pode permitir que qualquer coisa impura venha macular a casa do Deus santo.

Como C. H. Spurgeon afirmou com tanta clareza: “Não temos necessidade alguma de temer excessiva rigidez na eliminação do pecado. Com o mesmo zelo do israelita que expurgava todo o fermento de sua casa [em preparação para a Páscoa], nós devemos nos livrar de todo pecado da nossa vida, conduta e conversa.”

Quais são as coisas que contaminam o Templo de Deus?

Podemos dizer, com toda propriedade, que qualquer desvio do caráter santo de Deus, qualquer violação de sua santa Palavra contamina o Corpo de Cristo. Porém, as Escrituras destacam vários pecados específicos que entristecem mais o Espírito de Deus.

No Velho Testamento, houve diversas ocasiões em que Deus julgou seu povo pelos pecados de idolatria, murmuração, descontentamento, cobiça, incredulidade e rebeldia contra autoridades designadas por Deus. Quer o pecado fosse cometido por um líder, um indivíduo ou pela congregação inteira, um preço elevado sempre era exigido quando se contaminava a nação à qual Deus confiara sua glória. “Estas coisas lhes sobrevieram como exemplos e foram escritas para advertência nossa...” (1 Co 10.11).

O apóstolo Paulo escrevia frequentemente para as igrejas no Novo Testamento sobre diversos pecados que contaminavam o Corpo. Advertia-as para que eliminassem qualquer coisa que pudesse ofender um Deus santo e entristecer seu Espírito Santo.

Por exemplo, impureza doutrinária de toda espécie era perigosa e não podia ser tolerada. Paulo sabia que, em última análise, a doutrina determina a prática; doutrina falsa inevitavelmente resulta em práticas erradas. Ele ensinava que as pessoas encarregadas da liderança espiritual da igreja possuem uma imensa responsabilidade para proteger os cristãos de ensinamentos ou filosofias que não são bíblicas.

Paulo também tratou da questão de conduta inapropriada na igreja. Quer no exercício de dons espirituais, quer no papel de mulheres em cultos públicos ou, ainda, no caso de cristãos que se recusavam a trabalhar e ainda esperavam que a igreja suprisse suas necessidades materiais, o Corpo inteiro era afetado quando se deixava de seguir o padrão divino.

Em diversas ocasiões, Paulo expressava grande preocupação por causa de membros contenciosos que eram culpados de criar divisões no Corpo. Esses cismas eram, invariavelmente, uma evidência de orgulho. Ele repreendia aqueles que queriam fazer de suas preferências padrões absolutos, como também os que exaltavam meros homens acima do senhorio de Cristo, o Cabeça da Igreja. Aqueles que ameaçavam a unidade da Igreja estavam, na verdade, destruindo o Corpo que pertence ao próprio Cristo.

Paulo usava advertências especialmente severas quando se tratava de tolerar impureza moral na igreja. Ele ficou estarrecido ao tomar conhecimento que alguém que se dizia cristão, na igreja em Corinto, estava envolvido num relacionamento incestuoso. Porém, ao invés de confrontar diretamente a pessoa em pecado, Paulo repreendeu duramente a igreja por não ter tratado do assunto.

É bem provável que os crentes em Corinto tivessem adotado a filosofia tão prevalecente nas igrejas hoje: “Não é minha responsabilidade... Eu não sou a pessoa culpada... Tenho certeza de que ele não teria me ouvido se eu tivesse tentado dizer alguma coisa... Provavelmente seria melhor se outra pessoa conversasse com ele... Além do mais, realmente não é da minha conta...”

Com certeza, eles não estavam percebendo o quanto o Corpo inteiro estava sendo afetado pelo pecado de um membro não arrependido. Possivelmente, alguns estivessem até encobrindo algum pecado particular em sua própria vida, o que lhes tornava mais difícil confrontar o pecado de outra pessoa. Seja como for, estavam mantendo as atividades da igreja normalmente, como se não houvesse nada de anormal, inconscientes da infecção sutil que estava se alastrando no Corpo inteiro por causa do pecado não confessado de um homem. Era imperativo, insistia Paulo, que essa questão fosse tratada de maneira rápida e meticulosa.

Paulo enfatizou, muitas vezes, a necessidade de ter absoluta pureza moral na Igreja de Jesus Cristo, que entregou a própria vida para santificá-la. “Mas a prostituição e todo tipo de impureza ou cobiça nem sequer sejam mencionados entre vós, como convém a santos, nem haja indecências, nem conversas tolas, nem gracejos obscenos... Pois é vergonhoso até mesmo mencionar as coisas que eles [as pessoas não regeneradas] fazem às escondidas” (Ef 5.3-4,12). O que ele está dizendo? “Vocês são santos! Portanto, vivam como santos! Não permitam que pecado algum, por menor que seja, contamine o templo de Deus.”

Quais são as consequências da falta de santidade na Igreja?

Uma igreja que não é santa vai perder o senso da presença de Deus, e isso destrói sua capacidade de experimentar comunhão com ele. “Bem-aventurados os limpos de coração, porque verão a Deus” (Mt 5.8). “Segui ...a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor” (Hb 12.14). Um pregador de santidade, em outra época, lembrou seus ouvintes que “a comunhão do Céu não pode ser experimentada onde o fermento do inferno é tolerado”.

Uma igreja sem santidade é uma igreja impotente. O pecado que não for tratado como Deus exige privará a igreja do poder sobrenatural que o Espírito opera em seu favor. Na véspera da passagem pelo rio Jordão para entrar na Terra Prometida, Josué não convocou uma reunião do Conselho para determinar a melhor estratégia para chegar ao outro lado. Ele não programou uma apresentação de cantor popular para animar o povo para o desafio do dia seguinte. Nem mesmo chamou uma reunião de oração. Pelo contrário, exortou a todos: “Santificai-vos, porque amanhã o Senhor fará maravilhas no meio de vós” (Js 3.5). Somente a indisposição de abandonar todo pecado conhecido poderia limitar a poderosa mão de Deus.

Uma igreja sem santidade perde seu testemunho, sua marca característica no mundo. Quando Deus falou com Moisés que a nação rebelde teria de entrar na Terra Prometida sem a presença dele, Moisés protestou: “Pois como se há de saber que achamos graça aos teus olhos, eu e o teu povo? Não é, porventura, em andares conosco, de maneira que somos separados, eu e o teu povo, de todos os povos da terra?” (Êx 33.16).

Sem santidade genuína e prática, não podemos experimentar a presença manifesta e a glória de Deus no nosso meio. E sem a sua presença, não temos nenhuma diferença essencial de qualquer clube social ou instituição religiosa.

Jesus advertiu a igreja de Éfeso que havia se afastado do seu primeiro amor: “... e, se não, venho a ti e moverei do seu lugar o teu candeeiro, caso não te arrependas” (Ap 2.5). A igreja que trocou valores eternos e celestiais pelas coisas deste mundo e que se recusa a arrepender-se do seu pecado contra o Senhor da igreja poderá ter sua luz apagada e não ser mais capaz de atrair as pessoas a Cristo.

A Palavra de Deus promete que haverá uma consequência especialmente severa para os indivíduos que forem responsáveis por contaminar sua igreja. “Se alguém destruir o santuário de Deus, Deus o destruirá; porque o santuário de Deus, que sois vós, é sagrado” (1 Co 3.17).

Deus leva a sério a pureza do seu templo, e aqueles que ousam promover ou tolerar elementos de contaminação no Corpo de Cristo terão de pagar um alto preço por isso. Na verdade, a igreja inteira paga o preço quando não mantém santidade coletiva.

Como se pode manter a pureza no Corpo de Cristo?

Há responsabilidade pessoal e coletiva para a preservação da pureza da igreja.

Em 1 Coríntios 11, Paulo trata com a necessidade de cada cristão individual ser purificado de todo pecado conhecido. Primeiro, ele nos exorta a examinar a nós mesmos (v.28). Compare sua vida honesta e humildemente ao padrão imutável e absoluto das Escrituras e ao coração e vida de Jesus. Seja meticuloso. Não permita que um pecado sequer, por menor que seja, escape ao escrutínio da santidade de Deus e do holofote do seu Espírito.

Em seguida, Paulo nos instrui a julgar a nós mesmos (v.31). Concorde com Deus que todo pecado é um grande ato de rebeldia contra o Senhor do universo. Reconheça a seriedade de cada pensamento, palavra ou ação impura. E seja rápido para arrepender-se do pecado, colocando-o debaixo do sangue de Cristo e renunciando e abandonando-o totalmente.

Entretanto, não é suficiente tratar somente com os pecados pessoais. Carregamos, também, uma enorme responsabilidade de ajudar a preservar a santidade na igreja. Somos todos membros de um Corpo. Quando um membro peca, todos carregamos o fardo e a vergonha do seu fracasso. Não podemos ignorar aqueles que violam o padrão da justiça de Deus. Por outro lado, não devemos atacar e destruir as pessoas que estão caídas. O que devemos fazer, então? Paulo nos dá a resposta.

Primeiro, devemos restaurar o irmão que ofendeu, usando os passos bíblicos de disciplina. Esse processo requer que repreendamos ou corrijamos o irmão com amor e humildade (Gl 6.1; Mt 18.15). Isso significa que devemos mostrar à pessoa como sua conduta não atinge o padrão da santidade de Deus e da sua Palavra.
Se necessário, outras pessoas podem ser chamadas para confrontá-lo como grupo. E, como recurso final, pode ser que ele tenha de ser levado diante de toda a congregação.

Indiferente do que for necessário em cada situação, o importante é lembrar sempre que o objetivo não é punir o ofensor, mas restaurá-lo à obediência e manter a santidade no Corpo. Por meio da oração, em resposta a uma repreensão sábia, feita em amor, os olhos dele poderão ser abertos, levando-o ao verdadeiro arrependimento.

Quando isso acontece, mesmo que haja necessidade de um período de restauração, e ainda que seu ministério futuro possa ser limitado (dependendo na natureza do pecado), o Corpo terá todo o prazer em “perdoar-lhe e confortá-lo” e em “confirmar para com ele” o seu amor (2 Co 2.7-8). Em outras palavras, o Corpo deve continuar provando seu amor para ele, caminhando ao seu lado por todo o processo até chegar à completa restauração.

E o que acontece se o ofensor não se arrepende quando é corrigido? É nesse ponto que a igreja, muitas vezes, se omite em relação às instruções da Palavra de Deus, trazendo consequências trágicas para o Corpo inteiro. Quando escreveu à igreja em Corinto sobre o homem incestuoso, Paulo deixou claro que o membro do Corpo que não se dispõe a arrepender-se e a abandonar o pecado deve ser removido da comunhão, para não contaminar a igreja (1 Co 5.7,13). Não se pode permitir que ele continue a desfrutar dos benefícios e privilégios da comunhão com o povo de Deus.

Por mais que isso pareça severo ou exagerado a alguns, Paulo mostrou que tal atitude é a que mais beneficia, na verdade, tanto o pecador, que pode ser motivado a arrepender-se, quanto da igreja, que será preservada de contaminação espiritual.

De modo geral, a igreja das últimas décadas não se tem mostrado disposta a assumir responsabilidade por tratar com o pecado no meio dela. O caminho mais fácil é simplesmente deixar essas coisas de lado. Envolver-se no processo de disciplina e restauração requer tempo, esforço e energia. Requer que tenhamos disposição de abandonar todo pecado conhecido na nossa própria vida. Geralmente, esse não é o caminho mais fácil nem o mais conveniente. Porém, é o caminho do verdadeiro amor. É o caminho da santidade. É o caminho de Deus.

Alguns gostam de se apegar ao texto: “Não julgueis, para que não sejais julgados” (Mt 7.1), como desculpa para deixar de se envolver na restauração de irmãos caídos. Mas a Palavra de Deus ensina claramente que devemos julgar “os de dentro” (1 Co 5.12), ou seja, os que fazem parte do Corpo de Cristo. Pureza na igreja é a responsabilidade de todo cristão. “Expulsai, pois, de entre vós o malfeitor” (v.13). “Lançai fora o velho fermento, para que sejais nova massa” (v.7).

Em seu poderoso sermão sobre esse texto, C. H. Spurgeon conclamou a Igreja de Jesus Cristo a fazer tudo o que fosse necessário para preservar a pureza:
Quando se toleram impurezas na igreja, logo as pessoas começam a dar desculpas pelo pecado, depois a liberá-lo plenamente e, finalmente, a permitir que se introduzam outros pecados ainda piores. O pecado é como uma embalagem de mercadorias que chegou do Oriente a esta cidade, em tempos antigos, trazendo no seu conteúdo a peste. Provavelmente, era uma embalagem pequena, mas trazia contaminação letal e morte para centenas de habitantes em Londres. Um pequeno trapo, naquela época, podia levar infecção a uma cidade inteira.

Da mesma forma, se você permite, conscientemente, que um pecado continue dentro da igreja, ninguém conseguirá avaliar a extensão final do dano a ser causado por aquele mal. A igreja, portanto, precisa ser purificada de todo o mal, com a máxima diligência possível. Qualquer elemento azedo ou corrompido, qualquer coisa abominada por Deus precisa ser expurgada. É responsabilidade do ministro cristão e de todos os seus colaboradores manter a igreja livre de todo e qualquer elemento de contaminação.

Nada menos que isso é digno do nosso Pai Santo, cuja glória enche os céus e a terra. Nada menos que isso é digno do nosso Salvador Santo, que derramou seu sangue para redimir-nos do pecado. Nada menos que isso é digno do Santo Espírito, de quem somos templo.

Portanto, tenhamos empenho em nos arrumar para o casamento com o Cordeiro, a fim de podermos estar “vestidos de linho finíssimo, resplandecente e puro” (Ap 19.8) e de sermos apresentados a ele como “igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, porém santa e sem defeito” (Ef 5.27).
Publicado originalmente por Life Action Ministries. Usado com permissão.
por Del Fehsenfeld, Jr.

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Impacto Profundo!

Por: Luiz Montanini

“História dos 40 anos de trabalho, somada à do avivamento em Rubiataba na década de 70 e aos testemunhos de alguns líderes do Brasil, mostra os benefícios e efeitos que o ministério da família Walker e de simpatizantes produziram e produzem nesta geração.”

Nem bem amanheceu o dia, e o jovem Robert Walker, o primogênito dos homens, arreou o cavalo, atrelou-o à carroça cheia de hortaliças fresquinhas que acabara de colher e partiu da propriedade rural para o centro da pequena cidade, ali perto, para oferecer sua mercadoria de porta em porta. Antes do meio-dia, ainda daria tempo de pegar alguns mantimentos para a família de oito americanos recém-chegada a um novo e promissor território.

Quem imaginou a cena acontecendo no Arizona ou no Tennessee, por volta de 1878, enganou-se, e aqui vão três dicas para que o leitor descubra de que país estamos falando: primeira, o nome da cidade visitada é Rubiataba.

Se ainda parece difícil – afinal, Rubiataba pode ser nome de tudo, até de cidade americana –, vamos diretamente às outras duas dicas, porque temos coisas mais importantes a dizer: o cavalo atendia por Mandão, nome apropriado e bem brasileiro, como se sabe, e o território (o estado, no caso) é Goiás.

Pois foi exatamente naqueles confins da Terra, em Rubiataba, a 243 km de Goiânia (na época, a distância parecia três ou quatro vezes maior, de tão precários os transportes, estradas e acessos), que, em janeiro de 1968, a família do casal John e Ruth Walker fixou residência, complementada pelos filhos Katharine, Robert, Christopher, Harold, Peter e pelo caçula Thomas, então bem jovens.

Mas que raios uma família de americanos viera fazer naquele fim de mundo, naquela época e naquelas condições tão difíceis e precárias? (Ainda mais diante do fato de que haviam entrado no país com vistos de simples imigrantes, carimbados quatro anos antes, em fevereiro de 1964, quando se instalaram provisoriamente em Lagoa Santa, região metropolitana de Belo Horizonte, onde permaneceram até se mudarem para a isolada e desconhecida Rubiataba, no centro geográfico do país.)

Hoje, 47 anos depois, muitos integrantes da comunidade cristã brasileira guardam no depósito do próprio coração e em frutos espirituais amadurecidos ao longo destas quase cinco décadas uma nova visão para a igreja brasileira – esta, aliás, o motivo do êxodo da família dos EUA. Uma visão que vem sendo revelada, compilada, e divulgada há quase 40 anos, desde o ano de 1972, quando a família Walker, como ficou conhecida, passou a produzir e replicar, de forma artesanal, folhas grampeadas, apostilas e livretos com escritos próprios e de outros homens de Deus. Alguns desses materiais foram fruto de seminários realizados na própria Rubiataba e que atraíam líderes de todo o país, enquanto outros vieram de contatos com pessoas no mundo todo, com cujas palavras proféticas se identificavam.

Essência Antes da Aparência

Neste ano de 2011, sem John Walker entre nós, que escolheu, por assim dizer, a melhor parte e está, desde janeiro de 2007, no seio de Abraão, o ministério iniciado pela família Walker em 1972 está perto de completar 40 anos. Continua sem fins lucrativos, mas já não é tão artesanal. Está mudado para melhor na aparência, mas procura se manter simples e relevante na essência.

Possui duas estruturas principais, uma em Americana – onde está instalada a Impacto Publicações, que publica a revista Impacto e o jornal O Arauto da Sua Vinda – e outra na Chácara Peniel em Monte Mor, que recebe alunos de todo o país para cursos de preparação profética e reuniões de ministério ao Senhor, consulta na Palavra e comunhão.

O trabalho hoje inclui ainda: uma escola em Jundiaí de Educação Infantil e de Ensino Fundamental e Médio, que existe há 23 anos e já promoveu onze encontros anuais de atualização e visão pedagógica cristã com educadores de vários estados; parcerias com igrejas e grupos em várias partes do Brasil – cujos nomes não citarei para não correr o risco de esquecer alguém; encontros em alguns locais, como no sítio Vale da Águia, em Sorocaba, da comunhão de grupos à qual pertence Pedro Arruda, um dos integrantes do ministério Impacto; cursos extensivos de preparação profética, como o realizado em Baixa Grande, na Bahia, além de visitas no mesmo tom a diversas igrejas país afora.

O ministério Impacto, como o chamaremos aqui, não possui uma estrutura formal ou administrativa. É conduzido por dois grupos interligados de irmãos que formam uma espécie de conselho deliberativo. Um deles é o conselho editorial da revista (cujos nomes aparecem na página 3) e inclui, além dos dois membros da família mais ativos na área de publicações, Christopher e Harold, vários integrantes que moram em cidades próximas a Americana. O outro é um grupo de relacionamento ministerial que se reúne regularmente para orar e definir os rumos e os próximos passos do serviço voluntário prestado a Deus e à igreja brasileira. É constituído por alguns membros do conselho editorial, mas conta também com várias pessoas que não estão envolvidas diretamente no trabalho da editora.

Enfrentando a Vida em Condições Primitivas

A Rubiataba do início da década de 70 apresentava o seguinte cenário: nas ruas sem asfalto, carroças e carros de bois circulavam livremente entre alguns poucos caminhões de gado, ônibus e fuscas. Movimento maior – principalmente de caminhões – só se via na Rodovia Belém-Brasília, que passava a cerca de 30 quilômetros longe da cidade e que, inicialmente, também não era asfaltada.

As viagens – na maioria para Anápolis e Goiânia – eram feitas de ônibus pinga-pinga, por horas e horas em estradas de terra, passando por algumas vilas que nem sequer existiam no mapa: Ipiranga, Nova Glória, Jardim Paulista, Rianápolis, Jaranápolis.

A família instalou-se e viveu durante anos em uma chácara sem água encanada, sem eletricidade, sem fogão a gás, sem geladeira e sem carro. Os rapazes (especialmente Robert, Harold e, mais tarde, Thomas) plantaram uma grande horta durante anos para consumo próprio da família e cujo excedente era vendido todas as manhãs, de carroça, na cidade.

Porém, plantar, comer e vender verduras e frutas, ainda que fosse bom, não era exatamente o motivo da migração da família para Rubiataba. Estimulados pelo pai, John Walker, eles queriam cumprir o chamado para o Brasil. Começaram obedecendo ao mais simples e, paradoxalmente, mais difícil dos mandamentos: evangelizar a cidade e os distritos próximos.

Pregação Nas Ruas, Igreja Nas Casas e Batismos No Córrego

Depois da chegada a Rubiataba, em janeiro de 1968, a família passou por uma porção de dificuldades naturais, inclusive por doenças, a ponto de quase todos os oito membros da família pegarem hepatite.

Mas, um ano depois, o ânimo dos irmãos retornou com a chegada de três famílias e mais uma viúva com os filhos, que haviam sido tocados pela palavra de John Walker em Belo Horizonte e Lagoa Santa, MG, onde a família morou pelos primeiros quatro anos no Brasil. A chegada desses reforços fortaleceu a equipe e possibilitou a formação de um núcleo de comunidade de crentes. Começaram a fazer reuniões nas casas.

Em 1970, Katharine e Christopher participaram de um encontro em Goiânia (do Movimento Jovens Livres, liderado pelo casal Ana Maria e Paulo Brasil) e voltaram cheios do fogo de Deus. John Walker, então, sentiu urgência para aproveitar as labaredas e ampliar o fogaréu. Com a família e os outros que vieram de Minas, passaram a pregar nas ruas e nas praças e a fazer visitas às residências. As conversões começaram a acontecer, e os batismos eram feitos em córregos próximos à cidade.

Filhos Caíam Nas Graças Do Povo ao Acolher Prostitutas e Alcoólatras

Em Rubiataba e região, os Walker eram conhecidos como os americanos. A população, a princípio desconfiada, passou a aceitá-los em pouco tempo. Quem conta é dona Eunice Maria Borges Pena, que foi evangelizada e ganha para Cristo naquela época:

Quando os americanos chegaram, em 1968, em pouco tempo caíram na graça do povo, porque eram humildes e apresentavam muitos frutos. O Roberto (Robert Walker, que mora hoje em Monte Mor, SP) e o Tomé (Thomas Walker, hoje bispo nos EUA da igreja brasileira Fonte da Vida em Nova York), casaram-se anos mais tarde com as brasileiras Geralda e Evandra respectivamente. Eles chegaram a acolher prostitutas e alcoólatras e a levá-los para sua casa. A cidade ficava admirada e passou a admirá-los também.

A conversão de dona Eunice ao evangelho pregado pelos americanos aconteceu em 1978, mas seu primeiro contato com eles, anos antes, foi marcante também. Ela relembra:

Eu morava em Bragolândia – distrito a 10 km de Rubiataba – e um grupo da igreja, incluindo o Cristóvão (Christopher), Roberto e Haroldo, foram de carroça pregar lá, no meio da rua. Havia uma festa religiosa na cidade, e chovia forte. Os religiosos não gostavam dos americanos e soltaram foguetes [bombinhas] debaixo da carroça. O cavalo [olhe o Mandão aí de novo], que estava amarrado à carroça, ficou assustado, arrebentou tudo e sumiu, deixando o Cristóvão e os outros irmãos ensopados, debaixo d’água. Lá de minha casa, eu ficava olhando; não tinha como chamá-los, mas fiquei com muita pena deles.

Passaram-se uns anos, e nos mudamos pra cidade de Rubiataba. Um dia, o Tomé bateu na minha porta. Ele fazia visitas de casa em casa, anunciando o Evangelho. Lembro até que contei para eles a história de Bragolândia e fiquei muito satisfeita com a visita.

Depois de algum tempo, comecei a ir à casa de uma irmã da igreja para ler a Bíblia com ela. Eu já tinha os meus seis filhos e queria aprender a Palavra de Deus.

Um dia, acabei indo para uma reunião. Que lugar mais abençoado: era um salão pequeno, só quatro paredes, muito simples, de cimento vermelho no piso. Tinha três degraus pra gente subir e, quando você chegava ao primeiro degrau, já sentia a presença de Deus. Só que eu não sabia que era a presença de Deus. Sentia algo diferente, mas só depois compreendi que era Deus.

Tinha reuniões que duravam quatro horas, e ninguém dava um pio dentro do salão porque o “seo” João não aceitava. Ele era muito radical, mas a gente amava aquele seo João. Ao final das quatro horas, a gente achava ruim porque tinha terminado. Acho que vivemos ali um pouquinho do Céu aqui na Terra.

Essa família foi uma bênção na minha vida, na vida dos meus filhos e dos meus netos. O que aprendi com eles, passei para os meus filhos e, agora, estou passando para os meus treze netos.

Um dos seis filhos de dona Eunice é o Clésio Pena. A exemplo de dona Eunice e outros, ele experimentou o que podemos chamar de Avivamento em Rubiataba. Clésio mora hoje com a esposa Rosied e os três filhos em Araras, SP. Ele faz parte do conselho editorial do ministério Impacto. Leia seu testemunho em “Depoimentos”.

Na Primeira Impressão, a Diferença Entre a Lei e a Graça

Por volta de 1971, o patriarca John Walker passou a dar estudos bíblicos a vários interessados às terças e quintas-feiras à noite. Não havia um prédio para a igreja na época – e nem queriam que houvesse. As reuniões eram feitas no bairro de Rubiataba chamado Posto Fiscal, em casas simples, de famílias pobres, mas onde se reuniam pessoas com imensa sede da presença de Deus.

Harold Walker conta que, no decorrer desses estudos, seu pai começou a falar sobre Gálatas 3, ensinando a diferença entre Lei e Graça com argumentos que mostravam, por exemplo, que o Evangelho começou com Abraão e não com Jesus. A Palavra soava nova e viva.

Os filhos Katharine e Christopher anotavam tudo. A ideia de usar as anotações e formular estudos escritos para distribuir a alguns amigos e irmãos surgiu numa reunião de família (como quase todas as novas direções e mudanças). Afinal, a família sempre tivera certa veia jornalística e gostava de comunicação, lembra Harold Walker. O pai do seo João, como John Walker ficou conhecido, ganhara a vida como corretor de seguros na Califórnia, mas fora repórter no jornal da faculdade. Sua mãe, Imogene, era profunda apreciadora de cultura: música, ópera, filosofia e literatura. Sua esposa, a irmã Ruth, levada pelo Senhor em julho de 2008, era poetisa. Seus tocantes poemas foram reunidos num livro artesanal, em inglês, intitulado From my Pink Cushion (Da minha almofada cor-de-rosa).

John Walker tinha uma formação eclética: estudara em faculdades prestigiadas nos Estados Unidos, como St John’s, Stanford e Berkeley. Após sua conversão a Cristo, também nos EUA e ainda jovem, recebera forte influência de pessoas com ênfases e vertentes diversificadas, como John Manchester (seu mentor inicial), John Myers, William Branham, Watchman Nee, Witness Lee e outros. Participou, ainda, do ministério do jornal Herald of His Coming (O Arauto da Sua Vinda), publicado até hoje em vários países, inclusive no Brasil, tendo Christopher Walker à frente.

“Meu pai gerava a palavra, mas não sabia bem o que fazer com ela, e os filhos o completaram nisto”, lembra Harold.

De acordo com anotações no diário de dona Ruth Walker, no dia 31 de março de 1972, Katharine e Christopher mimeografaram (num mimeógrafo a álcool, que produzia aquelas cópias roxas) a primeira mensagem sobre Lei e Graça, que seria depois enviada pelos correios para conhecidos e amigos. Este dia pode, portanto, ser considerado como o do início do ministério de literatura da família Walker. Depois vieram outras folhas, sempre grampeadas no alto, à esquerda, também mimeografadas, com títulos diversos, dentre os quais, A Igreja Verdadeira e A Igreja Falsa e a primeira versão de O Segredo da Igreja Gloriosa.

A repercussão positiva levou a família a imprimir O Segredo da Igreja Gloriosa, de John Walker, numa gráfica de Goiânia, em outubro de 1973. Mas a empreitada revelou-se cara, o que os levou a produzir os livretos posteriores de forma artesanal. Paternidade, de Derek Prince, veio a seguir e foi impresso em setembro de 1975. Impresso é modo de dizer, claro: o texto era datilografado numa máquina de escrever Remington azul clara e reproduzido num mimeógrafo a tinta.

Na hora da encadernação, perceberam que não poderiam usar um grampeador industrial porque a capa do livreto, feita em papel A4 simples, se desprenderia dos grampos com facilidade. Enquanto discutiam em família o que fazer, os olhos azuis e criativos de dona Ruth – quem diria – viram a solução. Para já demonstrá-la, pegou um livreto e o costurou na dobra, com sua máquina de costura doméstica. A ideia funcionou e virou técnica de acabamento da nova editora.

A partir daí, veio o best-seller A Patrola de Deus, cuja primeira edição foi feita em fevereiro de 1976 nos Estados Unidos, num linotipo, pelo casal Al e Donna Adan. Como não tinham uma máquina com acentos em português, estes foram inseridos à mão, dando um aspecto bem artesanal ao resultado final. Logo em seguida, em março do mesmo ano, saiu o livreto artesanal Procuram-se Sacerdotes.

O auge do ministério aconteceu de 1980 a 1985. Nesse período, muitos livretos e apostilas foram publicados e diversos seminários foram realizados (veja mais na Entrevista de Harold Walker e Christopher Walker e na matéria “Depoimentos”).

Do Centro Geográfico ao Demográfico. No Meio de Tantos… e Sós

No início de 1986, John e Harold decidiram mudar-se para Jundiaí, SP. “Saímos do centro geográfico do Brasil para irmos ao centro demográfico”, lembrou John Walker na página 75 do seu livro Minha Jornada Espiritual (livro que é fonte de várias informações deste artigo e que relata muitos aspectos da história da família Walker de forma bem mais completa). “Nossa ideia era encontrar, em São Paulo, um grupo de homens com sede da Palavra.” Porém, as coisas não aconteceram como esperavam, e muitas dificuldades surgiram. Várias tentativas de levar a palavra recebida a uma nova dimensão na prática falharam, e, ao mesmo tempo, a unidade ministerial dentro da família como um todo se desmoronou. Estavam no meio de tantos… e nunca haviam se sentido tão sós. A família acabou espalhando-se, mas o tempo confirmou aquilo em que os crentes genuínos creem: que Deus corrige percursos.

De Jundiaí, Harold mudou-se em 1996 com a esposa Ester e os três filhos para Americana, SP, e ali conviveu um tempo com seu irmão Christopher, que, depois de casado, fora para lá em 1987 e estava dirigindo uma escola de inglês. Juntamente com eles, foram as caixas de literatura, que ficaram amontoadas numa sala fechada ao lado da escola.

Jornal O Arauto da Sua Vinda Manteve a Coluna Erguida

Nesse período, de 1986 até meados da década de 1990, houve quem pensasse que o ministério de literatura houvesse terminado. Ainda que muitos na igreja brasileira o tivessem esquecido, permaneceu um remanescente: o jornal O Arauto da Sua Vinda, versão em português do Herald of His Coming, fundado em 1941, em Los Angeles, com linha editorial voltada à convocação para oração, avivamento e preparação para a vinda de Cristo. O jornal circula até hoje, não só nos países de língua inglesa, mas também em muitos outros ao redor do mundo.

“Algo novo começou naquela época que se tornou, até hoje, uma das colunas do ministério”, fala Christopher a respeito do Arauto. O jornal já havia sido editado por alguns anos no Brasil, inicialmente sob a responsabilidade do Pr. Enéas Tognini, nos anos 70, e, depois, de outras pessoas, mas, na época, não estava mais sendo publicado. Existia um vínculo antigo da família com o ministério, já que John Walker trabalhou durante cinco anos no jornal com os fundadores (W. C. Moore e sua esposa Sarah) em Los Angeles, de 1956 a 1960.

Lois Stucky, que passou a ser uma das responsáveis pelo Herald nos EUA depois do falecimento dos fundadores e que conhecia John da época em que ele estivera envolvido no ministério, escreveu perguntando se ele sabia de alguém que pudesse dar continuidade à publicação do jornal. John passou a informação para Christopher, e ele aceitou o desafio. Pouco depois, o editor Elmer Klassen, que por muitos anos fora responsável pela publicação do jornal em vários idiomas europeus, veio ao Brasil para acertar os detalhes com Christopher.

Foi assim que, a partir de 1993, O Arauto da Sua Vinda passou a ser editado no Brasil sob a responsabilidade da família Walker. Até hoje, é distribuído de graça a cada três meses (em média) a aproximadamente 8 mil leitores, sendo mantido exclusivamente por ofertas voluntárias. Seus leitores (dentre os quais me coloco) o consideram de valor inestimável.

Impacto Nas Raízes

Em setembro de 1998, nasceu a revista Impacto, como sucessora da revista Lead, editada pelos pastores Mateus Ferraz de Campos e Cyllas Marins, de Americana. Diante de algumas dificuldades que a revista Lead estava enfrentando, surgiu, numa conversa entre Mateus e Harold, a ideia de uma nova revista. Outros homens com dom de escrever foram convidados e agregados ao conselho editorial e, hoje, a Impacto reflete uma diversidade eclética de pensamentos, origens e experiências. Como sugere o próprio nome, o objetivo da publicação é oferecer matérias e artigos que causem impacto, não no sentido sensacionalista, mas no intuito de levar os leitores a reexaminar suas convicções pessoais e espirituais e não simplesmente de adotar conceitos promulgados por tradições ou lideranças. A ideia é não recuar diante de temas complexos ou polêmicos, mas discutir os assuntos de tal forma que o próprio leitor chegue a uma conclusão pessoal, fundamentada na Palavra. A missão é ser a revista que faz pensar. Ao mesmo tempo, representa a continuidade de um ministério de 40 anos, de toda uma geração.

Luiz Montanini faz parte do Conselho Editorial da revista Impacto. Casado, tem três filhos, jornalista e um dos pastores numa comunidade em Valinhos, SP.

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

John Stott- Morre aos 90 anos o teólogo britânico

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Era considerado um dos maiores teólogos e líderes do século XX

Faleceu hoje, na Inglaterra, aos exatos 90 anos e três meses de vida, um dos maiores teólogos evangélicos do século 20, o anglicano John Robert Walmsley Stott, mais conhecido como John Stott. Stott nasceu em 27 de abril de 1921, em Londres, capital inglesa, filho de Sir Arnold Stott e Emily Stott. Seu pai era agnóstico e sua mãe, luterana, mas que congregava na Igreja da Inglaterra. Em 1938, aos 17 anos, ao ouvir em sua escola um sermão do reverendo Eric Nash, tomou sua decisão para Cristo. Nash foi quem o discipulou.

Stott estudou Línguas Modernas e Teologia em Cambridge, graduando-se com louvor em Francês e Teologia, após o qual foi ordenado ministro pela Igreja Anglicana. Em pouco tempo, destacou-se como um dos maiores líderes cristãos de seu tempo, principalmente depois de liderar, juntamente com o evangelista batista norte-americano Billy Graham, a célebre Conferência de Lausanne, em 1974, que reuniu as principais lideranças protestantes no mundo e influenciou inúmeros líderes cristãos ao redor do globo. Ele foi um dos principais autores do Pacto Lausanne, em 1974.

Em 2005, a revista Time classificou Stott entre as 100 pessoas mais influentes no mundo, e em novembro de 2004, o colunista David Brooks, do jornal The New York Times, disse sobre ele: “Se os evangélicos pudessem eleger um papa, Stott é a pessoa que eles escolheriam”. Billy Graham o considerava “o clérigo mais respeitado do mundo”.

Stott escreveu mais de 50 livros, traduzidos para dezenas de línguas, inclusive coreano e chinês. Suas obras mais populares, que se tornaram best-sellers, são Cristianismo Equilibrado, publicado no Brasil pela CPAD; e A Cruz de Cristo. Outras obras: Cristianismo Básico, Crer é Também Pensar, Porque Sou Cristão, Eu Creio na Pregação, Firmados na Fé, Entenda a Bíblia, Cristianismo Autêntico, O Perfil do Pregador, Ouça o Espírito, ouça o mundo.



Fonte:http://www.jneweb.com.br/

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Como Manter Acesa a Chama da Paixão por Deus

Por: Susana Walker

Nosso cenário inicial é um coração duro, um espírito morto, uma alma totalmente entregue ao mundo e a seus prazeres. Nessa paisagem sombria, em meio à morte e à podridão, imagine um soprar suave do Santo Espírito de Deus. O sopro de Deus amolece o coração, ressuscita o espírito e faz a alma extraviada retornar ao seu verdadeiro propósito, de louvar e conhecer a Deus.

Todos os cristãos já passaram por essa experiência. Todos nós, um dia, estávamos mortos e fomos ressuscitados pelo Deus Altíssimo. Quando isso aconteceu, nosso coração foi incendiado por uma paixão ardente por Deus. Buscávamos conhecê-lo com todas as nossas forças. Queríamos servi-lo de todo nosso coração. Tínhamos um amor pelas almas perdidas que nos impulsionava a falar a todos sobre nossa nova descoberta. Essa mesma chama ardeu ainda mais forte quando fomos batizados no Espírito Santo e, posteriormente, todas as vezes que tivemos experiências reais com ele. Foi como se estivéssemos em uma montanha-russa e nossas emoções estivessem “a mil”! Assim que o trajeto do carrinho terminava, queríamos voltar ao final da fila e começar tudo de novo! Tínhamos paixão suficiente para conquistar o mundo todo para Deus!

Mas como não podemos viver todos os dias, semanas e meses das nossas vidas em cultos, tendo experiências 24 horas por dia, era nossa obrigação voltar à “vida normal”. Logo fomos confrontados pelos compromissos sociais, por nossas contas bancárias, pelas exigências da moda e do mundo, por nossas famílias, amigos e todas as outras “coisas boas e normais” do nosso dia-a-dia. Com o passar do tempo, nossa chama foi perdendo seu ardor e, sem percebermos, já não tínhamos mais aquele fogo queimando dentro de nós.

Apesar de ainda termos em mente o desejo de seguir a Deus, de ser como ele e de torná-lo conhecido, faltava força para fazer qualquer coisa nessa direção. “Não estou com vontade de orar! Que preguiça de ler a Bíblia! Ai! Que vergonha de falar com meu amigo sobre Jesus!” Aquilo que antes era normal passou a ser difícil e inconveniente!

Tantas vezes esse processo descrito acima acontece conosco. Apesar das nossas boas intenções, parece que é tão mais fácil deixar a chama apagar-se do que cultivá-la para que permaneça acesa. E, por incrível que pareça, não são somente as ocupações seculares ou as coisas “do mundo” que podem apagar nossa chama. Muitas vezes, o próprio ministério pode nos afastar da verdadeira visão e da nossa paixão inicial. Eu nunca pensei que tão cedo pudesse estar falando sobre este assunto, mas depois de um ano trabalhando como missionária, posso dizer com certeza que é tão fácil se perder nos “afazeres” do ministério, esquecendo-nos assim do porquê, para quê e para quem estamos fazendo o que fazemos! Durante este ano, lutei para manter minha chama acesa e posso compartilhar agora alguns princípios que podem nos ajudar a manter acesa a nossa chama da paixão, dentro e fora do ministério.

O Amor É Uma Decisão, Não Só Uma Emoção

A noção errada sobre o que é o amor levou o mundo à situação caótica em que hoje se encontra, principalmente tratando-se da área de casamento e família. Para exemplificar isso, vou citar o que li numa revista secular há algumas semanas e que considero ser uma das maiores asneiras já escritas. Uma famosa artista do cinema internacional, quando interrogada se já havia traído seu marido, respondeu: “Sim, eu já traí”. E justificou-se dizendo: “Não posso frustrar meus sentimentos!”

A maioria das pessoas no mundo hoje (além de boa parte dos cristãos) é guiada somente por sentimentos e emoções, buscando felicidade através de fazer tudo que seus desejos carnais requerem. Mas o verdadeiro amor divino, descrito em 1 Co 13.4-7, nos diz o contrário. No versículo 5, Paulo afirma que o amor divino não busca seus próprios interesses! Um amor como esse não pode surgir em alguém que segue somente suas emoções humanas. E é por isso que vemos tantos divórcios, dentro e fora da igreja. Como um compromisso baseado nas emoções é frágil, assim que a paixão inicial finda, o casal diz que o amor acabou!

Da mesma forma quando, depois de uma experiência com Deus, a chama da paixão no seu coração começa a se apagar e você já não sente aquelas emoções como no início, você precisa tomar uma DECISÃO de amar, mesmo que os sentimentos não estejam presentes naquele momento. Quando você persevera na sua decisão de amar, em breve os sentimentos voltarão.

Nessa perseverança, uma coisa essencial é a disciplina! Muita gente descarta a disciplina com Deus como algo legalista e “do diabo”! Mas é ela que nos sustenta quando todas as emoções se foram e não temos vontade natural para fazer nada. Quando todas as coisas do mundo nos chamam a atenção e abafam a chama da paixão, precisamos de perseverança e disciplina para continuar seguindo adiante. Durante a espera em um aeroporto, com pessoas passando apressadas de um lado para o outro e lojas cheias de propagandas para atrair clientes, escrevi em meu diário o seguinte:

Tantas luzes piscando, tantos sons, tantos cheiros… tantas coisas procurando chamar nossa atenção! Mas tão pouco é digno do nosso tempo, tão pouco realmente importa, tão pouco…

É tão difícil para nossas mentes jovens, tolas e carnais ficarem focalizadas em algo que valha a pena. Somos tão facilmente distraídos, tão facilmente desviados. Mas precisamos perseverar, precisamos ser fortes, persistir, continuar. Existe um propósito para o qual vale a pena viver, vale a pena morrer, vale a pena se disciplinar. Existe algo, sim, existe somente uma coisa!

Realmente só a disciplina nos manterá firmes, quando as emoções se forem. Somente a disciplina pode fazer surgir o verdadeiro amor.

Um exemplo muito comum disso é quando estou assistindo televisão e sei que ainda não li a Bíblia. Eu quero ler a Bíblia! Lá no fundo, quero mesmo! Mas estou tão confortável no sofá, estou gostando do filme que está passando, não quero perder o final! Então não quero ler a Bíblia!

Está vendo a guerra que existe dentro de mim? No coração eu quero, mas nas minhas emoções estou feliz com o que estou fazendo! O que falta? A disciplina e a determinação de levantar-me do sofá, desligar a televisão e abrir a Bíblia. Assim que essa luta é ganha, já não sinto mais vontade de saber o final do filme. O desejo do meu coração conquistou minhas emoções e agora eu “por completo” quero ler a Bíblia.

Muita gente julga isso como legalismo ou esforço humano. Na verdade, entretanto, é o verdadeiro amor operando em mim para vencer as emoções carnais!

A Chama de Paixão por Deus Precisa de Oxigênio

Assim como uma chama de fogo natural precisa de oxigênio para continuar queimando, assim também é a chama da paixão por Deus. Em Mateus 5.15, a Bíblia nos exorta a não escondermos a candeia em um lugar onde não possa ser vista e onde não receba o oxigênio necessário para sua sobrevivência. Devemos colocar nossa chama bem à vista, onde todos possam vê-la, para que assim seja bem alimentada de oxigênio. A Bíblia diz, em Gn 12.1-3, que Abraão foi abençoado por Deus para que pudesse abençoar todas as famílias da Terra. O que isso quer dizer? Que não recebemos bênçãos para guardá-las para nós mesmos; mas somos abençoados para abençoar outros. Um fator essencial para nossa chama continuar queimando é que a compartilhemos com outros.

Quando compartilhamos com outros sobre quem Deus é, o que ele fez e todas suas maravilhas, nós permitimos que mais oxigênio chegue até nossa chama, fazendo-a crescer mais ainda. Cada vez que contamos para alguém sobre como Jesus nos salvou, nossa salvação se torna ainda mais real para nós mesmos. Cada vez que oramos para que alguém receba o batismo no Espírito Santo, mais real ele se torna na nossa vida. Cada vez que oramos para que alguém receba a cura, mais podemos crer para nossa própria cura. Quando falamos com os outros sobre Jesus, voltamos ao nosso primeiro amor. Quando voltamos ao nosso primeiro amor, falamos com outros sobre Jesus! É um ciclo que nunca se acaba! Muitas vezes, numa tendência protetora, queremos esconder nossa chama de tudo e de todos. Nós a guardamos lá no fundo, onde ninguém pode atingi-la e onde o vento não pode apagá-la. Mas numa atitude super protetora, acabamos por apagá-la nós mesmos, ao não permitirmos que o oxigênio chegue até ela. Quando queremos garantir, por nós mesmos, que manteremos a chama acesa, encontramos, ao contrário, uma segurança perigosa, que nos leva a uma vida medíocre, sem paixão e sem o ardor de Deus.

Para manter uma chama ardente, precisamos nos tornar vulneráveis. Precisamos tirar as paredes de proteção natural que construímos ao redor da nossa chama. Paredes que levantamos por termos sofrido feridas anteriormente; paredes de autodefesa que nos fazem sentir fortes, mas que, na verdade, nos mantêm separados de Deus e incapazes de compartilhar nossa chama com outros.

Devemos correr riscos; riscos de sermos desprezados, rejeitados e considerados tolos pelo mundo. Como? Colocando-nos em posições onde precisemos depender totalmente da ação de Deus. Por exemplo, quando compartilhamos com os outros sobre Jesus, corremos o risco de não sermos aceitos; entretanto, se o fizermos assim mesmo, estamos dando uma oportunidade para que Deus aja em favor da salvação deles. Quando deixamos tudo que o mundo tem para oferecer e seguimos a Deus, corremos o risco de sermos considerados tolos pelo mundo; entretanto, estamos dando a Deus uma oportunidade de usar-nos de maneira sobrenatural. Quando confiamos em Deus para nossa cura, somos chamados de loucos radicais e não somos entendidos até pela maioria das pessoas dentro das igrejas; entretanto, estamos dando lugar para um milagre acontecer para a glória de Deus! E cada vez que vemos Deus operando em nós e através de nós, SENTIMOS sua presença tão perto que nossa chama aumenta! Ver o Deus sobrenatural invadir nossas vidas naturais é combustível para nossa chama de paixão – mas para que isso aconteça, precisamos correr o risco de deixar nossas chamas expostas à visão crítica do mundo!

A Chama é Reavivada Através de Verdadeira Comunhão Entre Irmãos

Alguma vez você já sentiu a chama queimar no seu interior enquanto compartilhava algo com um irmão? Parecia que quanto mais falavam sobre o assunto, mais este se tornava verdade para vocês e mais o fogo ardia nos seus corações! Isso acontece porque a comunhão é um tremendo combustível para nossa chama interior. Durante o tempo que tenho morado na África, tenho descoberto muitas coisas sobre o fogo que eu não sabia antes. Muitas vezes quando saímos para fazer evangelismo em diversas vilas, somos hospedados nas igrejas. Como as igrejas de pau-a-pique são muito abafadas e empoeiradas, geralmente dormimos do lado de fora, à luz das estrelas, ao lado de uma fogueira, para espantar os animais e insetos.

Antes de ir dormir, podemos observar que o fogo está alto, queimando forte, com as quatro toras de madeira bem próximas umas das outras. Ao acordarmos no dia seguinte, daquilo que antes era um fogo, agora restam somente cinzas. Podemos pensar que o fogo apagou-se por completo, mas, na verdade, ele apenas diminuiu e armazenou-se em forma de brasas. Por que isso aconteceu? Porque durante a noite, as toras de madeira, que antes estavam unidas, foram queimando, queimando, virando cinzas e “afastando-se” umas das outras. Por fim, a chama do fogo já não podia se manter, com as toras totalmente afastadas umas das outras, e restou somente a brasa separada em cada tora. O que temos de fazer para que a chama volte? É simples: reunir as toras novamente e assoprar um pouco. Tão logo as brasas se toquem e recebam oxigênio, a chama reaparece.

O mesmo ocorre em nossas vidas espirituais. Quando não temos verdadeira comunhão com nossos irmãos, nossas “toras” estão se afastando. A chama, que antes era forte, vai enfraquecendo até transformar-se numa simples brasa. Para fazer a chama voltar, basta buscar a verdadeira comunhão, que incendiará novamente nossos corações.

Essa comunhão geralmente é espontânea, num momento de conversa privada ou no compartilhar de sonhos, idéias e anseios, e muitas vezes pode acontecer com alguém que você acaba de conhecer. O mais importante é sermos genuínos e, mais uma vez, estarmos vulneráveis (“baixar a guarda”).

Conclusão

Se genuinamente queremos manter nossas chamas acesas, devemos:

- Tomar a decisão de amar e buscar a Deus, independente das nossas emoções inconstantes. Podemos crer que, se perseverarmos, Deus sabe exatamente do que precisamos e nos trará as emoções, como galardão da nossa dedicação a ele.

- Ser vulneráveis e correr riscos com o objetivo de compartilhar nossa chama com outros, sem receio do que possam fazer contra nós. Quando fazemos isso, damos chance para Deus operar e reacender a nossa chama (e até “contagiar” a outros).

- Buscar comunhão real com outros cristãos, em conversas relevantes sobre o reino de Deus, que façam-nos voltar ao nosso primeiro amor e às revelações, que perdemos por não termos “cultivado” nossa chama.

Com um povo apaixonado por Deus, não haverá mais quem possa dizer que o Evangelho é para fracos e maricas! Somos um exército preparado para batalha, em humildade e submissão ao nosso comandante: Cristo!

E quando nossos inimigos se levantarem para apagar nossa chama, quanto mais assoprarem, mais oxigênio nos darão, para que nossas chamas queimem mais e mais forte. Seremos como os primeiros cristãos – quanto mais perseguidos eram, mais determinados a morrer por Cristo se tornavam!

“Acenda o fogo em você, vá até a sociedade, e deixe que eles vejam você se queimar.”
(John Wesley)

Susana Walker, 20 anos, é filha de Harold Walker e está no segundo ano de uma missão com “Christ For The Nations” em Moçambique, onde é professora de um Instituto Bíblico para treinamento de obreiros, perto de Inhaminga.

sábado, 8 de outubro de 2011

A Igreja Que Vai Surpreender a Igreja

Por Luiz Montanini

A história bíblica está repleta de agires invisíveis e surpreendentes da Trindade, que foram fundamentais para cumprir etapas no propósito de estabelecer o Reino de Deus na Terra, ainda em curso.

Apenas para citar dois dos principais: Deus surpreendeu um temível faraó levantando um salvador gago dentro de sua própria corte e milênios depois surpreendeu toda uma nação e seus sacerdotes apresentando o Messias a partir de Nazaré, vilarejo incapaz aos olhos da época de produzir coisa que preste.

Da mesma forma, como naqueles dois momentos importantes da história Deus agiu de forma surpreendente, seria possível ele agir com a mesma surpresa agora, em relação à igreja, à sua noiva?

Afinal, a exemplo daquelas, nesta época há uma sensação crescente e coletiva de que uma intervenção sobrenatural de Deus na igreja seja iminente, já que há dois mil anos entramos nos “últimos dias” (Hb 1.2).

A realidade atual é que poucos admitem que esse agir possa ser surpreendente. Não concebem um Deus com predileção pelo inusitado. Imaginam um Deus sisudo e ignoram o refinado senso de humor e criatividade do Todo Poderoso.

Mas há uma parcela de cristãos hoje que tem certeza da iminência do kairós de Deus. Estes estão certos de que há um tempo específico e determinado por Deus para o surgimento de uma igreja gloriosa que surpreenderá a própria igreja e cumprirá as expectativas da criação que geme e aguarda pela manifestação dos filhos de Deus (Rm 8.19).

Mas o que esta igreja fará de tão inusitado e surpreendente? Não sei e isto me traz descanso. Eu poderia desfiar aqui uma longa sentença do que acredito ser uma igreja surpreendente e gloriosa: dizer que anseio por uma igreja gloriosa em humildade e surpreendente em simplicidade, fraterna e comunitária, amorosa e poderosa em obras e em palavras, fundamentada e reformada por profetas cheios do espírito e governada por apóstolos que falam como quem tem autoridade e não pelos que se dizem apóstolos e não o são… e por aí vai.

Como eu, muitos têm expectativas, sonhos e doutrinas a respeito da igreja, quase sempre divergentes em gêneros, números e graus.

Felizmente para todos nós, apenas Deus é o sábio arquiteto deste grande edifício que é a sua casa e é ele quem está preparando a sua noiva. E ninguém, a não ser ele, sabe o que esta igreja fará de inusitado e surpreendente.

Agradeçamos a Deus por nossa bendita ignorância. Porque no momento em que alguém se apresentar como possuidor da resposta, o agir do Todo Poderoso deixará de ser inusitado. E esta glória ele não vai repartir com ninguém. De minha parte, desisto: também quero me surpreender quando o inusitado chegar.

Luis Montanini é jornalista, mora em Valinhos – SP, e é responsável pelo site cristão: www.jornalhoje.com.br.