domingo, 3 de novembro de 2013

VOCÊ TEM TEMPO PARA DEUS? Por Bert Ghezzi

VOCÊ TEM TEMPO PARA DEUS? Por Bert Ghezzi Bert Ghezzi, atualmente o redator da revista da renovação católica carismática NEW COVENANT, tem supervisionado o desenvolvimento de diversos grupos de oração a partir de 1967. É um dos coordenadores de “Word of God”, uma comunidade cristã interconfissional em Ann Arbor, Michigan, EUA, onde reside com sua esposa Mary Lou e seus seis filhos. Recentemente li um livro no qual um pastor procurava impressionar um jovem sobre a importância de passar tempo a sós com o Senhor todos os dias. O jovem respondeu ao pastor que gostaria de orar e de se envolver mais com a igreja, mas que estava ocupado demais mantendo um emprego e acompanhando as aulas no colégio. Simplesmente não sobrava tempo para mais nada. Pouco tempo depois, porém, ele se enamorou de uma moça e descobriu que era possível arranjar bastante tempo no seu dia para estar com ela. Pelo fato deste relacionamento ser uma prioridade na sua vida, ele queria encorajá-lo e deixá-lo crescer. Estava disposto a sacrificar tempo no seu dia atarefado para este fim. Com efeito, seu relacionamento com a moça era mais importante para ele do que seu relacionamento com o Senhor; ele estava ansioso para sacrificar em favor do primeiro, mas não do segundo. Até que ponto nos é importante o relacionamento com o Senhor? É uma prioridade na nossa vida? Estamos dispostos a fazer todo esforço para o desenvolver e fortalecê-lo? Se a resposta for afirmativa, então em princípio não haverá nenhuma circunstância capaz de impedir-nos de edificar este relacionamento que, como todos os relacionamentos pessoais, dependerá de um certo esforço da nossa parte. Além disto, haverá necessidade de um significativo investimento pessoal. Depois do meu batismo no Espírito Santo, fiz uma das maiores descobertas da minha vida: o Senhor se importava comigo pessoalmente; amava-me e queria me atrair para mais perto de si mesmo. Esta descoberta revolucionou a minha vida. De repente reconheci que meu relacionamento com o Senhor era uma via de duas mãos. O Senhor investira a si mesmo em mim, se tornara homem e morrera na cruz, e agora queria continuar se doando para mim. Isto significava que eu tinha de responder-lhe, procurando encontrá-lo a fim de investir a minha vida nele. Ouvi certa vez uma profecia que sugere a intensidade deste compromisso: “Você tem sido o primeiro nos meus pensamentos”, o Senhor disse. “Eu tenho sido o primeiro nos seus?” A maioria de nós teria dificuldade para dizer sim a esta pergunta em cem por cento do nosso tempo. Porém, há diversos passos que podemos tomar para colocá-lo mais e mais no centro das nossas vidas e na preeminência dos nossos pensamentos. Se duas pessoas estão interessadas em formar uma amizade, elas devem passar tempo juntas. No relacionamento de uma pessoa com Deus, isto significa separar um tempo todos os dias para a oração. Podemos nos enganar pensando que é suficiente orar esporadicamente através do dia inteiro andando para a loja, por exemplo, ou lavando roupa mas isto não dá! Nenhum relacionamento profundo prosperará se o tratarmos casualmente desta forma. Comunicação regular é a base de todo bom relacionamento, inclusive do nosso relacionamento com o Senhor. É uma coisa reconhecer a importância da oração, e outra bem diferente separar tempo para orar na nossa vida diária. A melhor maneira é designar um horário definido para este fim todos os dias, e depois nos comprometer a guardá-lo com fidelidade. Nosso tempo de oração diária deve tornar-se uma parte vital dos nossos compromissos do dia, tão importante que seria impossível nos esquecermos dele. Podem surgir emergências para cancelar o horário de oração mesmo na vida do mais zeloso indivíduo. Podemos compensar por esses desequilíbrios ocasionais planejando alguns horários alternativos. Se oramos às seis e meia da manhã, devemos marcar um outro horário mais tarde no dia que servirá de substituto caso for necessário. Nosso primeiro compromisso deve ser orar no tempo marcado no horário, mas se necessário nosso horário alternativo poderá nos dar uma saída. Quando procuramos um horário disponível para orar, devemos lembrar que é o horário melhor, e não o que sobra, que pertence ao Senhor. Aprendi isto de maneira bem difícil. Quando eu me dediquei novamente ao Senhor, separei as horas mais alertas para os meus estudos e deixei a oração para um horário tarde à noite. É claro que naquela hora eu estava cansado e minha mente fervia com as preocupações do dia. Eu me achava pensando sobre os meus estudos ou sobre os acontecimentos do dia, e depois chamava isto de oração. Eu estava cansado demais para fazer algo além disto. Meu relacionamento com o Senhor caiu consideravelmente até que resolvi dar-lhe o melhor tempo do meu dia. Depois disto meu amor por ele e o meu conhecimento dele receberam uma nova dimensão. Pode ser que ao olhar para os nossos compromissos diários digamos: “Impossível! Não posso separar o melhor horário do dia para o Senhor”. Mas se estivermos sérios em relação à vida cristã, descobriremos uma maneira de fazê-lo. Um bispo contou para um amigo meu que estava atarefado demais para orar uma hora por dia. Meu amigo retrucou desafiando o bispo para tirar duas horas do seu melhor horário para a oração. O bispo ficou atônito, mas aceitou o conselho e conseguiu resgatar duas horas da sua agenda preenchida. Uma nova paz e força entraram na sua vida e seu amor pelo Senhor floresceu. Ele queria encontrar esse tempo e por esta razão o encontrou. As tarefas de pais e mães e de outros com numerosas responsabilidades podem representar um desafio tão grande quanto a agenda diária do bispo. As mulheres casadas, por exemplo, muitas vezes acham difícil separar tempo para orar porque suas responsabilidades vão desde a manhã cedinho até o fim do dia. Quando chega a noite, o melhor horário já passou. Para maridos e esposas, pode ser necessário muito discernimento do Senhor e cooperação prática de seu cônjuge a fim de conseguir um bom horário de oração. Especialmente os maridos devem tomar qualquer medida necessária para que suas esposas possam ter um horário tranqüilo, sem perturbação, para orar todos os dias. Quanto tempo devemos reservar para a oração? Crentes novos, na sua primeira força de entusiasmo, são propensos a se lançarem a períodos de uma hora, somente para descobrir que ficam enfastiados e inquietos depois dos primeiros dez minutos. Em geral, quando somos principiantes em oração, é melhor escolher um período mais curto ao invés de um período muito longo. Poderíamos começar com quinze minutos, por exemplo. Então, à medida que aprendemos a orar e nos sentimos mais à vontade em oração, podemos ir estendendo o período até chegar ao tamanho ideal para nós. O importante, tanto para principiantes como para cristãos mais maduros, é escolher um horário razoável e ficar firmes com ele. O lugar onde oramos é tão importante quanto o horário e a duração do nosso tempo de oração. Nem todos os lugares disponíveis são adequados para este fim. Quando eu era professor universitário, eu tentei orar no meu escritório com o único resultado de ser convencido de que isto era impossível. Eu estava cercado por distrações: trabalhos dos alunos para corrigir, formulários para preencher, uma preleção para dar na próxima aula, alunos para atender. Entretanto, não conseguia encontrar nenhum outro lugar para orar e por isto pedi ao Senhor para me ajudar. Logo depois descobri um escritório desocupado num outro departamento próximo ao meu. E não só isto, havia uma secretária cristã naquele departamento que prometeu não deixar ninguém me perturbar enquanto eu orasse ali. Se tivermos dificuldade para achar um lugar para orar, devemos pedir ao Senhor e também a outros cristãos para nos ajudarem a encontrar um local adequado. Se possível, o lugar escolhido deve nos dar liberdade de orar e cantar em voz alta. Não devemos ficar satisfeitos com um lugar que não permite oração com liberdade de expressão. Depois de escolher um horário e um local, o que devemos fazer? Em primeiro lugar, devemos decidir que ficaremos abertos para a inspiração do Espírito Santo. Esta atitude pode não ser muito fácil para quem só conhece oração formal, mas de fato o Espírito nos quer guiar. Se chegarmos diante do Senhor com isto em mente, descobriremos que nossa oração será incalculavelmente enriquecida à medida que cedermos aos impulsos do Espírito. Por outro lado, a oração não é uma atividade totalmente espontânea; ajuda muito colocar elementos específicos no nosso tempo diante do Senhor, como por exemplo, a leitura da Bíblia, intercessão, etc. Seja qual for nossa decisão neste sentido, devemos deixar o tempo flexível o suficiente para que o Espírito modele nossa oração de forma a nos aproximar mais do Senhor. Enquanto aprende a orar, a maioria dos cristãos encontra alguns obstáculos comuns. Reconhecer esses obstáculos pode ajudar-nos a tratar com eles. Recentemente conversei com alguns amigos sobre o que fazemos no nosso tempo de oração; alguns de nós reconhecemos que durante a oração acabamos pensando sobre nossas vidas, famílias ou emprego. Alguém comentou imediatamente: “Isto não é oração”, e ele tinha razão. Se durante nosso tempo de oração estivermos pensando sobre nossos filhos ou nossa agenda para aquele dia, ou estamos sendo distraídos, ou estamos sinceramente procurando raciocinar sobre as coisas na presença de Deus. Embora este último possa ser uma atividade válida, não é necessariamente oração. Na oração devemos nos entregar ao Senhor para que cresçamos no nosso conhecimento e amor por ele, e na nossa capacidade de ouvir e obedecê-lo. Isto significa que, embora possamos pensar sobre nossas preocupações durante a oração, elas não devem ocupar nossa mente durante todo o período. É correto trazer nossas preocupações diante do Senhor, e devemos freqüentemente interceder em favor delas, e até mesmo pesar cuidadosamente as vantagens e desvantagens de um determinado curso de ação em espírito de oração. Entretanto, devemos vigiar contra transformar nossa intercessão numa especulação infindável de como devemos agir com determinados problemas. Avaliando nossos períodos de oração pode ser um outro obstáculo à oração. Um amigo meu disse que seus tempos de oração não eram muito bons até que alguém o aconselhou a não mais avaliá-los. De fato, disseram-lhe que o único critério que deveria usar para avaliar sua oração era sua fidelidade em cumprir um horário certo diariamente diante do Senhor. Ele seguiu este conselho e foi retirada dele uma enorme pressão. Devemos parar de avaliar nossa oração. Jesus é o único qualificado para fazer isto. Podemos estar fazendo exatamente o que ele quer e ele pode estar muito contente conosco, mas se seguirmos os nossos sentimentos podemos dar a nós mesmos uma avaliação baixa e achar que somos um grande desapontamento para ele. Nas “Cartas do Infermo” de C.S. Lewis, um demônio mais idoso, Murcegão, aconselha um demônio mais novo, Cupim, sobre desviar pessoas do Senhor, chamado por ele “o inimigo”. Murcegão insiste particularmente em que os períodos de sequidão - vales ou depressões - são de imenso valor para o Inimigo estimular o crescimento do crente individual. De fato, Murcegão escreve: “Alguns dos seus prediletos especiais (do Senhor) têm passado por vales mais longos e mais profundos do que os demais”. Ele aconselha Cupim a se lembrar que “as orações oferecidas nos períodos mais depressivos são as que mais lhe agradam... Nossa causa nunca estará em maior perigo do que quando um homem, não mais querendo, mas mesmo assim pretendendo fazer a vontade de nosso Inimigo, perscruta o universo do qual se parecem ter apagado todos os traços de sua presença e interroga por que é que foi desamparado e ainda assim persiste em obedecer.” É claro que nossa oração e relacionamento com o Senhor não devem ser um período interminável de depressão. Devemos experimentar, no decorrer normal da vida, tanto os cumes como as depressões. Mesmo quando sentimos que nossa oração está mais seca do que um deserto, não devemos ser influenciados por isto. Na verdade, todo cristão experimenta sequidão na oração em algum período da sua vida. O Senhor deixa isto acontecer para que possamos dizer: “Jesus, não importa como estou me sentindo, não importa se passo todo este tempo sem sentir nada. Eu te amo e vou passar este tempo contigo”. Isto agrada profundamente ao Senhor. Nosso relacionamento com o Senhor não deve ser menosprezado. É um compromisso muito sério. Se o negligenciarmos, colheremos os resultados de uma vida cristã sem poder, destituída, na maior parte, de paz e direção. Se o alimentarmos através de oração e da Palavra, nossa vida será um testemunho da alegria, força e confiança que se encontram somente num relacionamento com o Senhor. Esta mensagem foi traduzida do original em inglês, intitulado: “Making Time for God”. Os direitos autorais pertencem a: NEW WINE Magazine Copyright em fevereiro de 1980. P.O. Box Z, Mobile, Al 36616 E.U.A.