terça-feira, 20 de dezembro de 2011

História da Igreja – Parte 1 – Com Sal ou Sem Sal?


Por: Christopher Walker
Raízes – Lições da História da Igreja Para os Nossos Dias.
É um principio indiscutível que para se descobrir o propósito da existência de um indivíduo, entidade, nação ou até mesmo de toda a humanidade, é preciso começar analisando a sua história, suas raízes. Não é diferente em relação à Igreja, que na verdade é o conjunto de pessoas que atenderam ao chamado de Deus para saírem para fora de um mundo cada vez mais à deriva no caos e degeneração resultantes do pecado, a fim de reencontrar através da obra redentora de Jesus o caminho de volta ao propósito original de Deus para a humanidade e para toda a criação.
É nosso objetivo através destas crônicas sobre épocas passadas da história da Igreja descobrir algumas das nossas raízes, e compreender melhor a razão da nossa existência.
Com Sal ou Sem Sal?
O que você sabe a respeito da igreja dos primeiros séculos?
Se você já leu o livro de Atos dos Apóstolos, sabe que era uma igreja unida, despreocupada com estruturas, prédios, organizações, títulos, cursos, e tantas outras coisas sem as quais hoje não saberíamos fazer nada.
Aquele grupo de cento e vinte pessoas que acreditaram na promessa do homem que fora crucificado, que ressuscitara e que fora embora para o céu à vista de alguns deles, ficou esperando dentro de um cenáculo durante dez longos dias e recebeu o Espírito Santo exatamente como Jesus prometera. A partir deste momento, e deste cantinho desprezado do Império Romano, este bando de pessoas incultas que já não contava com o seu poderoso líder carismático, começou sua trajetória triunfante, espalhando-se por todo o Império e além dele, e chegando a representar no ano 300, segundo estimativas, de 5 a 10% da população do mundo civilizado.
Em muitas regiões, o cristianismo penetrou em todas as cama das da sociedade. Embora tivesse começado com pessoas humildes e incultas, a fé cristã atingiu todos os níveis sociais, e seus seguidores não puderam ser ignorados. Sobreviveram a diversas ondas de perseguição e oposição, e continuaram a avançar apesar de não contar com campanhas publicitárias, ou mesmo com qualquer estratégia evangelística explícita. Sua força pode ser avaliada pela ameaça que representou para os poderosos imperadores romanos, e que desencadeou as grandes ondas de perseguição.
Por que os cristãos dos primeiros dois séculos causavam tanta oposição e reações contrárias no mundo em que viviam?
As primeiras perseguições que estão registradas no livro de Atos foram causadas pelos judeus religiosos que não reconheciam em Jesus o cumprimento de todas as profecias e promessasdas suas próprias Escrituras, e que se sentiam ameaçados e condenados pela realidade e autenticidade destes que proclamavam o cumprimento atual de todos os sím bolos, rituais e sombras da Velha Dispensação.
Mas por que os romanos, gregos e outros gentios também se levantavam contra este novo caminho?
Os romanos, que em geral eram tolerantes de outras religiões, contanto que as pessoas observassem os ritos e práticas que implicavam em submissão ao imperador romano. E era aí mesmo que estava uma das principais acusações contra os cristãos — sua teimosia e falta de respeito para com a autoridade romana.
Plínio, o Jovem, um oficial romano que foi enviado no ano 110 para governar a província de Bitínia (atual Turquia), foi quem deixou nos seus escritos um dos relatos pagãos mais antigos sobre os cristãos.
Na sua primeira experiência de interrogar os cristãos ali, como não sabia o que fazer ou como tratá-los, resolveu escrever para o imperador Trajano, pedindo conselho. “Não sei de que crime são culpados, ou o que preciso investigar ou castigar”, ele escreveu. Disse que estava incerto se quem admitiu ser cristão já era merecedor de castigo, ou se precisava ser acusado de outro crime também.
Mas enquanto isso, perguntou aos acusados se eram cristãos. Quando alguns confessaram que eram, ele perguntou uma segunda e depois uma terceira vez. Quando confirmavam, mesmo diante da ameaça de castigo, Plínio ordenou que fossem condenados. “Pois não tinha dúvidas de que, fosse o que fosse que estavam admitindo, a obstinação e perversa inflexibilidade deveriam ser castigados.”
Para ele, esta atitude cristã era uma espécie de insanidade contagiosa ou desordem mental que resultaria inevitavelmente em crimes contra o Estado romano. No final da sua carta, disse: “Esta superstição contagiosa não se confina nas cidades apenas, mas já espalhou sua infecção para as aldeias do campo.” Trajano posteriormente recomendou Plínio pela atitude tomada.
Era assim, aparentemente, que os romanos consideravam os cristãos: como um grupo seguidor de superstição perigosa. Nas palavras de Seutônio (escritor romano e secretário do imperador Adriano) e que foi um dos primeiros escritores pagãos a mencionar os cristãos, estes eram “uma classe de pessoas dadas a uma nova e perniciosa superstição.” Um outro historiador romano, Tácito, reconheceu que Nero inventou as acusações de que os cristãos haviam iniciado o incêndio de Roma, mas demonstrou pouca simpatia por este povo “notoriamente depravado”.
“O fundador deles, Cristo, fora executado no reinado de Tibério pelo governador da Judéia, Pôncio Pilatos,” ele escreveu. “Mas apesar da derrota temporária, esta superstição mortal espalhou-se não somente por toda a Judéia (onde este mal nasceu), mas até mesmo em Roma. Toda espécie de práticas depravadas e vergonhosas se ajuntam e prosperam na capital.”
O que os romanos entendiam por superstição? De acordo com diversos autores romanos proeminentes, incluindo Cícero e Plutarco, era qualquer crença ou prática religiosa e ofensiva, que desviava das normas romanas. Os grupos que tinham estas religiões “irracionais” poderiam agir imprevisivelmente, sem consideração pelos ritos e tradições de Roma. Na verdade, eram exatamente as suspeitas políticas, e não necessariamente as religiosas, que preocupavam as elites romanas. Se qualquer devoto religioso continuasse a observar os ritos romanos, poderia adorar o deus que quisesse.
Os cristãos não reconheciam nenhum outro deus a não ser o Deus deles. Isto já era mal, mas também se recusavam a participar em qualquer rito religioso não cristão, a servir no exército, ou a participar de cargos políticos. Era uma recusa a comer carne durante um rito religioso romano que levou Plínio, o Jovem, a julgar aqueles cristãos em Bitínia.
Além disso, espalhavam outras idéias fantásticas sobre os cristãos, como por exemplo que eram canibais e praticavam incesto. Como o cristianismo nasceu sob perseguição, as suas práticas mais sagradas não eram abertas a não cristãos, o que favorecia as deturpações de quem não tinha qualquer contato de primeira mão. Desta forma, o ósculo santo entre “irmãos” (Rm 16.16) talvez tenha sido interpretado como relacionamento incestuoso, e a ceia onde Jesus disse para comer sua carne e beber seu sangue poderia ser entendido como algo literal.
Os cristãos também eram acusados de adorarem cabeças de jumentas, de praticarem orgias sexuais, e de serem mágicos e feiticeiros (talvez por causa dos milagres de cura, da expulsão de demônios, e da cerimônia do batismo). Estas acusações que nem sempre foram levadas ao tribunal tinham o efeito de colocar a população e principalmente as elites contra os cristãos, mas em diversos períodos durante os primeiros séculos causou ondas de perseguição por colocar o cristianismo como inimigo do Império.
Numa época da história em que (no mundo ocidental) a Igreja conquista cada vez mais reconhecimento e espaço na cultura, na política e na sociedade secular, vale a pena voltar para nossas raízes e ver como a primeira igreja obteve suas primeiras vitórias e chegou a ser uma força influente no mundo daquela época. Onde está a verdadeira força da Igreja — na presença ameaçadora de um povo não alinhado e até mal interpretado, ou daqueles que se esforçam ao máximo para se assemelharem à sociedade e cultura em que vivem?
Onde está o sal da terra?
No próximo número: Como o sofrimento dos cristãos primitivos afetava o mundo em que viviam.
Fonte de pesquisa: Christian History Magazine, Issue 57,1998, da Christianity Today, Inc.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Pecado ou Problema?

Por: Robert Louis Cole

“Cria em mim, ó Deus, um coração puro, e renova dentro em mim um espírito inabalável.” (Sl 51.10)

“Tenho um problema”, disse a jovem senhora, um pouco envergonhada. Era o fechamento de uma reunião de oração no horário de almoço, promovida por um grande ministério na Costa Leste. Eu acabara de concluir um breve estudo bíblico e de encerrar a reunião, quando fui puxado de lado para uma oração particular.

- Qual é o problema? – perguntei.

- Eu tenho um problema – repetia ela.

- Sim. – Respondi, pensando se ela havia me escutado direito.

- Em que exatamente podemos concordar em oração?

Sua face se contraiu e lágrimas brotaram de seus olhos. – Não sei exatamente – desabafou, mordendo os lábios -, mas tenho um problema sério.

Tentei ser firme sem ser duro demais.

- Nosso Deus é um Deus de coisas específicas, não de generalidades – disse-lhe. – ficaria feliz em orar com você, mas preciso saber a natureza de seu problema de modo a orar especificamente. Ninguém mais saberá, apenas eu e você.

- Bom, na verdade, não sei qual é o meu problema – respondeu ela, como se estivesse bloqueada -, mas meu marido diz que eu tenho um problema -. Tentei novamente.

- O que seu marido diz ser o seu problema?

- Ele diz que eu não o entendo – disse ela, finalmente, agonizando a cada palavra.

- O que você não entende? – perguntei. De repente, a mulher começou a chorar convulsivamente, profundamente magoada.

- Meu marido deixa revistas ao lado de nossa cama – ela explicou, em meio a soluços. – Playboy e Penthouse, além de todas aquelas outras revistas de mulheres nuas. Ele diz que precisa primeiro olhar aquelas revistas para depois ter sexo comigo. Diz que precisa delas para se sentir estimulado.

Ela prolongou a última sentença, com lágrimas rolando por sua face.

- Já lhe disse que não precisava daquelas revistas, mas ele diz que eu não o entendo. Diz que, se eu realmente o amasse, eu entenderia por que ele precisa das revistas e, então, permitiria que ele tivesse mais revistas ainda.

- Qual a ocupação de seu marido? – perguntei eu.

- Ele é pastor de jovens.

Fiquei ali, boquiaberto, pensando no que acabara de ouvir. Estava ouvindo uma mulher me dizer que seu marido era um pastor de jovens que mantinha uma pilha de material pornográfico ao lado da cama!

- Seu marido pode ser um pastor de jovens, – disse-lhe -, mas também é um pornógrafo.

A cabeça da mulher se levantou em atenção. Foi como se eu a tivesse esmurrado diretamente no rosto. Ela jamais imaginou ouvir seu marido sendo descrito como alguém que gostava de pornografia, apesar de seu estilo de vida tê-lo transformado exatamente nisso.

Nestes tempos modernos nós não temos pecado: temos problemas. Transformamos o Evangelho em algo psicológico e, no meio do processo, eliminamos a palavra pecado de nosso vocabulário.

Mas eu tenho necessidades

Uma mulher veio a mim trazendo uma triste história. Seu marido a maltratou durante anos e, finalmente, a deixou, através de um divórcio litigioso. Membro de igreja, cristã confessa há vários anos, ela se viu só e desamparada.

Reagindo a seus sentimentos, ela saiu da cidade e passou um final de semana com um homem. Como ela mesma descreveu, ela possuía “necessidades biológicas”.

- Você tem consciência do que fez? – perguntei-lhe tão logo sentou-se em meu gabinete. A mulher foi pega de surpresa e colocou-se para trás.

- Por que, do que você está falando?

Seus olhos se arregalaram e sua face enrubesceu. Ofendeu-se por eu tê-la chamado de adúltera. Afinal, depois de ter cometido um adultério, ela era uma adúltera.

Para ela, aquilo não foi um pecado – apenas um problema, como disse.

Não falamos sobre pecado nos dias de hoje: falamos sobre problemas. A razão pela qual problemas são mais convenientes que pecados é que não precisamos fazer nada com os problemas. Se você apenas tem um problema, consegue simpatia, compreensão e ajuda profissional, somente para citar algumas coisas. Por outro lado, pecados requerem arrependimento, confissão e perdão.

Não é de estranhar que Freud queria se livrar da palavra pecado.

Resolvendo problemas biblicamente

No processo de reescrever a linguagem bíblica, fugimos da confrontação com nossos pecados. Mas, sem os enfrentar não fazemos nada com relação a eles. Todos os problemas da vida estão de algum modo relacionados ao pecado. Esta é a razão por que o homem precisa de um Salvador que o livre dos pecados como resposta a seus problemas. Deus sabia disso. Foi por isso que Jesus Cristo veio aqui para morrer por nossos pecados e ser a resposta para todos os nossos problemas.

A disciplina da igreja em nossos dias é relaxada, fraca ou inexistente. O apóstolo Paulo exigia disciplina. Se alguém se diz irmão – disse Paulo – e mantém um estilo de vida ou um padrão habitual de pecado, não mantenha amizade com ele – nem mesmo coma com ele. Sem relacionamentos.

“Mas agora vos escrevo que não vos associeis com alguém que, dizendo-se irmão, for impuro, ou avarento, ou idólatra, ou maldizente, ou beberrão, ou roubador; com esse tal nem ainda comais” (1 Co 5.11).

Ao contrário do que você ou qualquer outra pessoa possa pensar, este é um ato de amor e não de ódio.

Veja, os caminhos de Deus são tão altos quanto os céus estão acima da terra.

Paulo tinha a mente do Senhor quando escreveu estas palavras. Se uma pessoa que chama a si mesma de cristã continua em seu pecado sem punição e com todos os privilégios de outros membros, não terá nenhum incentivo para confrontar, confessar e afastar-se de seu pecado, além de contar com a aceitação de outros crentes.

Normalmente a pessoa que cometeu pecado admite que houve um problema, ou que ela simplesmente é uma desafortunada, mas vai chorar e reclamar quando se confrontar com a disciplina.

O lamento humano ocorre somente quando ficamos tristes por termos sido pegos. O lamento piedoso acontece no momento em que nos entristecemos pelo pecado que cometemos e quando queremos nos livrar dele.

Se Paulo vivesse em nossos dias, estaria condenando os humanistas seculares do tímido século XX, sitiando as fortalezas do pensamento moderno que têm tomado conta de nossa mente e nos cegado quanto à verdade. Realmente existem espíritos sedutores e doutrinas de demônios. Vemos tudo isso trabalhando em nosso mundo hoje. Somos levados a pensar que temos problemas em vez de pecado. Nossas doutrinas modernas, baseadas em vidas destituídas da vida de Deus, nos dizem: “Está tudo bem comigo e com você”, em vez de dizer: “Todos pecaram e carecem da glória de Deus…”.

Disciplina em ação

Fui tomar café com um pastor que estava cercado de problemas. Ele quase havia perdido sua igreja.

Os membros do coral sabiam, havia bastante tempo, que o ministro de música cometera atos de homossexualismo. Ele se envolveu a ponto de isto se tornar público.

Por muito tempo, ninguém disse nenhuma palavra sequer. Estavam todos esperando que alguma coisa acontecesse e uma mudança ocorresse. Por fim, o segredo vazou e chegou até ao pastor. Depois de muita oração e de uma busca diligente da verdade, chegou o momento em que o pastor e o ministro de música se encontraram para confrontar a questão. O ministro de música admitiu tudo.

- Você precisa decidir entre duas coisas – disse-lhe o pastor, de modo direto. – Deve arrepender-se ou renunciar. O ministro de música considerou as hipóteses e tomou sua decisão de modo muito bem pensado: não faria nem uma coisa nem outra. Em vez disso, começou a buscar apoio, primeiramente entre os membros do coro e, depois, entre a congregação.

Em pouco tempo, uma comissão de membros do coro pediu uma reunião com o pastor.

- Você não entende – disse o porta-voz. – Ele simplesmente tem um problema. Se nós o cercarmos de amor e compreensão, isto vai ajudá-lo e ele vai se livrar do problema.

- Sou eu quem não entende? – retrucou o pastor. – Se vocês o cercarem com amor e compreensão e se ele não tiver de se arrepender de seu pecado, então ele nunca conseguirá se livrar do problema.

As linhas de batalha estavam formadas. A comissão se espalhou pela igreja, ateando mais fogo ainda, arregimentando mais pessoas para ficarem contra o pastor piedoso a quem eles acusavam de não ser amoroso. O burburinho cresceu. Houve uma reunião tumultuada e, por intervenção divina, o pastor piedoso permaneceu.

O ministro de música saiu, levando consigo muitos simpatizantes. A igreja passou por momentos difíceis, mas Deus confirmou a posição piedosa daquele pastor. Hoje, a igreja está mais forte do que nos dias anteriores à crise. O próprio pastor é um homem mais forte.

Sabedoria humana versus sabedoria divina

A sabedoria humana debocha da verdade do Evangelho.

A diferença entre a sabedoria humana e a divina, especificamente com relação ao pecado, é que a sabedoria humana deseja encobri-lo. Adão tentou fazer isso no jardim. Primeiro, de modo simbólico, ao cobrir sua nudez. Depois, foi muito além disso, à medida que começou o processo de autojustificação, colocando a culpa de sua falta em Eva, de modo a encobrir seu próprio pecado.

Cubra-se – culpe outra pessoa.

Esta sabedoria falha continua a operar nos dias de hoje. O escândalo de Watergate tornou-se o clássico exemplo moderno de como acobertar alguma coisa. O enfraquecido mas resoluto pastor recusou-se a permitir que a sabedoria humana e o sentimentalismo se colocassem no caminho da justiça divina. Ele não permitiria que um pecado fosse encoberto e chamado de “um problema”.

A psicologia comportamental não tem nenhum livro-texto que seja adequado para lidar com o escopo do dilema humano. Deus escreveu o Livro sobre salvação dos pecados muito antes de a psicologia aparecer com a idéia de “resolução de problemas”.

Deus ordena obediência à sua palavra. Ele não admite coisas da moda quando estas violam a soberania de sua Palavra. Nossa atitude de não intervir não é simpática a Deus: é abominação a ele; e ele nos ordena – não nos convida, mas ordena – o arrependimento e a obediência.

A distância entre a sabedoria divina e a humana é astronomicamente grande. Em nossa sabedoria carnal reordenamos nosso sistema de valores de acordo com nossos desejos. O homem olha para sua tecnologia espacial, seus ternos Armani, um exemplar da Time e pensa que é sábio. Ele aprende e ensina uma filosofia que somente traz perguntas e nenhuma resposta. Associa-se a uma ciência que zomba da criação bíblica, ainda que não seja capaz de oferecer nada em troca, a não ser uma teoria sem comprovação sobre aquilo que ela crê ser a evolução.

“Quem entre vós é sábio e entendido?” é o que Tiago 3:13 nos pergunta incisivamente. O versículo seguinte continua: “Se, pelo contrário, tendes em vosso coração inveja amargurada e sentimento faccioso, nem vos glorieis disso, nem mintais contra a verdade”. Nosso mundo atormentado cheio de inveja, amargura e problemas – é o produto de nossa própria sabedoria mundana.

A sabedoria humana ensinou uma geração de líderes a crer que quanto maior o endividamento melhor será sua economia – uma filosofia que levou vários países à beira da ruína econômica. O sofisticado espírito da era moderna, baseado na sabedoria humana, traz discórdia, dor e, por fim, ruína.

É verdade que, desde o Éden, o homem não melhorou sua natureza. Ele pode ter mais conhecimento técnico, mas sua natureza continua a mesma. Dizer que a humanidade melhorou por causa da excelência técnica do homem é como dizer que um canibal está melhor porque usa garfo e faca.

“A sabedoria, porém, lá do alto”, conclui Tiago no versículo 17 do mesmo capitulo, “é, primeiramente, pura; depois, pacífica, indulgente, tratável, plena de misericórdia e de bons frutos, imparcial, sem fingimento”. Isto é sabedoria divina.

A sabedoria humana que nos manda sair para fazermos nossas coisas não é a sabedoria que vai nos levar à terra de Canaã. Você jamais poderá maximizar seu potencial até que tenha recebido a sabedoria de Deus.

Chame as coisas pelo nome

Os namorados que vivem juntos longe dos laços do matrimônio são fornicadores.

O adolescente desbocado é um zombador.

Deus não tem prazer em devaneios semânticos: ele fala a língua dos homens. As Escrituras colocam os pingos nos “is”: pecado é pecado.

Não haverá respostas inesperadas quando a “pessoa com problemas” se confrontar com uma eternidade sem Cristo. Os pecados serão Ievados a sério naquele momento – ainda que seja tarde demais. A “síndrome da Playboy” ou “necessidades biológicas”, assim como os “problemas” homossexuais não mais existirão.

Precisamos começar a enfrentar o pecado como homens.

Extraído do livro “Vitória sobre a Tentação”, Editora Mundo Cristão.

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

A volta da igreja pródiga

Por: Maurício Bronzatto

A Parábola do Filho Pródigo tem uma universalidade impressionante. Poucas histórias bíblicas são tão conhecidas quanto esta. Mesmo nos domínios estrangeiros à religião, não é difícil surpreender pessoas tomando como ilustração para alguma fala, opinião ou comentário o relato do filho arrependido que retorna à casa do pai e é graciosamente acolhido. Entre as muitas explicações que poderíamos recolher para o fato de a história bíblica ser tão recorrentemente recuperada no cotidiano, fico com a aspiração imorredoura da humanidade por se encontrar num ambiente cercado de afetos, capaz de lhe conferir a sensação peculiar de pertencimento e a convicção insuperável de segurança que só experimentam os que se sentem em casa. Que satisfação poderia ser maior do que esta?

O tema é tão prestigiado que encontra ressonância em muitas manifestações artísticas, fazendo convergir para um ponto comum os anseios profundos de todos aqueles que se reconhecem como não estando no lugar certo. Para ficar em dois exemplos, podemos, em primeiro lugar, lembrar do filme “Cidadão Kane”, em que o protagonista, no fim da vida, pronuncia uma palavra indecifrável para os que estão ao seu redor, cujo significado estava ligado a um brinquedo de seu tempo de criança. Depois de ter conquistado o mundo todo, o sucesso não foi suficiente para lhe garantir a paz característica dos que se sentem em casa. Para este personagem a única referência de casa era aquela que sua infância lhe proporcionara. Tendo se desviado desse lugar seguro e nunca mais para lá tornado, faltava-lhe sentido existencial, vazio que se acentuou quando o tema da morte passou a assombrá-lo. Um segundo exemplo retiramos dos versos do poeta contemporâneo Cacaso, em que parafraseia a conhecida “Canção do Exílio”, de Gonçalves Dias (“Minha terra tem palmeiras onde canta o sabiá…”). Escreve Cacaso: “Minha pátria é minha infância / Por isso vivo sempre no exílio”). Poucas linhas dizem tanto acerca da nostalgia em relação a um tempo assumido como melhor, quase mítico, localizado em algum lugar do passado. O anseio, no entanto, é o mesmo: a crescente insatisfação do homem quando intui, no mais íntimo, que não se acha no lugar devido.

Hoje podemos revisitar a parábola bíblica em questão e reconhecer dois pródigos: o filho que deixa a casa e aquele que se perdeu dentro dela. Um e outro, o esbanjador e o amargurado, precisam recuperar sua filiação. E é somente a recepção amorosa do pai que pode oferecer o ambiente para tal transformação. Aliás, o grande pródigo da parábola é o pai. Ninguém gastou mais do que ele nesta história. Ele esbanja compaixão, cuidado, perdão, investimento paternal de toda sorte. Tenho pensado nesta cena narrada por Jesus como contendo razões para se viver uma vida inteira. Alguém já disse que todo o Evangelho está contido ali.

Se é assim, no abraço e ambiente ofertados pelo pai aos filhos que voltam podemos também antever o retorno da igreja ao lugar de onde nunca deveria ter partido. Se considerarmos que a igreja um dia já teve como centro o colo de Jesus, os ensinamentos vivos do mestre e toda a riqueza da demonstração de sua comunhão com o Pai, que embevecia um grupo familiar de judeus do primeiro século, o ambiente que sucedeu a este tomou caminhos bem diferentes. Que abismo entre o original e outros ambientes aos quais tem sido inadvertidamente dado o nome de igreja ao longo dos tempos! Da intimidade com Jesus e seu Espírito, rapidamente a igreja se deslocou para um endereço. Tendo começado de forma familiar e feito muitas famílias-discípulas, não demorou a trocar a relação pela reunião, a intimidade e a partilha pelo evento. Não nos estranha o fato de que lares, inicialmente, casas-endereço em seguida, passaram logo a ser assumidos como igrejas. O resultado não poderia ser outro: a família foi desalojada e deu gradativamente lugar a um funcionamento eclesiástico. A consequência foi o aparecimento dos templos, das catedrais, das instituições e impérios religiosos. Tudo muito diferente do colo e da companhia de Jesus. A vida simples e cotidiana, na qual os sinais do Reino se evidenciavam, foi substituída por cerimônias e rituais. Estilizou-se a vida, e os vínculos no Espírito Santo cederam lugar à organização.

Entretanto, com a graça de Deus, a igreja pródiga está retornando. Se lembrarmos que a partida foi um distanciamento gradativo que deixou o colo de Jesus, depois a família, em seguida as casas e foi parar no templo e em todas as suas decorrências institucionais, o caminho de volta deverá ser percorrido de forma inversa. Em primeiro lugar, as divisas das estruturas precisam cair; a seguir, a cultura do templo; posteriormente, a volta às casas será a consequência natural de quem passa a ver pouco sentido no ambiente anterior. Mas a casa não é a pousada definitiva. Igreja nas casas faz parte da transição – não da permanência – que pretende devolver a igreja à família, e esta à intimidade estreita com Jesus.

Já conseguimos ouvir o barulho dos preparativos da festa para a igreja que estava morta e reviveu, que tinha se perdido e foi encontrada? Bem, isso vai depender do ponto do retorno em que nos encontramos.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

A Igreja… Sua Natureza

Por: John MacLauchlan

Se temos algum entendimento da natureza da Palavra de Deus e da igreja, não será uma surpresa ouvir a afirmação de que as duas são intrinsecamente ligadas. Na verdade Jesus é o Verbo de Deus, e a igreja é o seu corpo. Conseqüentemente, temos que entender o que Jesus é para saber o que a igreja é. E se Jesus é o Verbo, isto significa que devemos entender melhor o que é o Verbo para entender a igreja.

O Verbo, ou a Palavra, é a vontade de Deus expressa ao homem, mas mais do que isto, encarnada no homem. Jesus, além de ser a Palavra expressa de forma mais completa e total do que em qualquer manifestação anterior no Velho Testamento, era a Palavra habitando e vivendo plenamente numa pessoa humana. Da mesma maneira, foi a Palavra de Deus que trouxe à existência um povo, encarnando-se outra vez, e criando a igreja na mesma imagem daquele que era a Palavra de forma singular. Assim, a Palavra de Deus torna-se a igreja, e a igreja não é igreja sem esta Palavra.

Vejamos como isto se revela no Novo Testamento. Quando Paulo chamou os tessalonicenses a orar “para que a palavra do Senhor se propague e seja glorificada”, ele certamente não estava pensando na proliferação de idéias ou doutrinas. Pelo contrário, estava consciente de que estava se dirigindo àqueles que eram o resultado visível desta Palavra. Eram a palavra encarnada; sua expressão concreta. Paulo lhes falara a palavra vivificante de Deus e foram regenerados. Falou a palavra diretiva e construtiva de Deus e foram moldados num povo para Deus. Isto acontecera inacreditavelmente rápido em Tessalônica. Paulo agora exortava a orar por triunfo semelhante e resultados imediatos em outros lugares.

A Palavra e a Igreja são Uma

Claramente para Paulo, a igreja se origina da Palavra de Deus. Se a Palavra é a auto-expressão de Deus, a igreja também o é. Através dela, Deus fala aos homens. Podemos ver esta mesma ligação em outros lugares. “A igreja, na verdade, tinha paz por toda a Judéia, Galiléia, e Samaria, edificando-se e caminhando no temor do Senhor e, no conforto do Espírito Santo, crescia em número” (At 9.31). Compare isto com Atos 6.7: “Crescia a palavra de Deus e… se multiplicava o número dos discípulos…”

Em outro lugar é simplesmente: ” … a palavra de Deus crescia e se multiplicava” (At 12.24), e em ainda outro: “… a palavra de Deus crescia e prevalecia…” (At 19.20). O crescimento da igreja é atribuído à Palavra. A Palavra e a igreja são uma. Estas passagens falam sobre o desenvolvimento e crescimento da auto-expressão de Deus na terra. Mais e mais, ele tem um povo em quem pode viver e através de quem pode revelar como ele é.

A implicação é clara. A igreja é totalmente dependente da palavra profética. Sem esta palavra, ela cessa de ser a igreja do Deus vivo. Separar a Palavra da igreja é o mesmo que retirar o espírito do homem: resta apenas um cadáver.

O pico culminante da auto-expressão de Deus é Jesus. Ele encarnou e revelou perfeitamente tudo que Deus é. Nele o Deus invisível é visto pelos homens. Mas Paulo chama a igreja “corpo” de Jesus, o que seria sua auto-expressão. Em Efésios 1.23, vai mais além, e a descreve como a “plenitude” de Jesus, um termo usado no grego para o carregamento de um navio, ou o conteúdo total de uma embarcação. A igreja contém, encarna, e é plena de Cristo.

Nisto tudo, Paulo não está se referindo ao tempo em que Jesus andou na terra em um corpo mortal. Antes, descreve-o exaltado e supremo sobre todos os seus inimigos, enchendo o universo com sua grandeza. A igreja é a encarnação e expressão na terra do Rei dos reis. É a “plenitude daquele que a tudo enche em todas as coisas” (Ef 1.23).

Jesus é a Palavra de Deus. A igreja o encarna e expressa. A Palavra triunfante de Deus, exaltada e glorificada, vive em seu povo. Este povo não é chamado à existência para exemplificar uma cópia religiosa de Cristo. São criados como aqueles em quem ele vive. São seus filhos e filhas. São a expressão de Deus na terra.

Não Existe uma “Planta” Para a Igreja

Deus se recusa a ser limitado pelo homem. Não será restringido pelas limitações de conhecimento ou teologia humanos. Não será condescendente com as exigências do intelecto humano. Reserva a si mesmo a liberdade pessoal que é legítima somente para quem é supremo.

Questionado sobre sua definição de si mesmo, respondeu: “Eu sou o que sou”.

Conclui-se que um povo designado a expressá-lo não pode ser limitado a uma forma preestabelecida ou desenvolver-se segundo as linhas de uma planta predeterminada. Não pode haver um “padrão” para a igreja. Um corpo estruturado de acordo com algum padrão ou restrito àquilo que surgiu daquilo que se chama ortodoxia histórica, será meramente uma instituição religiosa humana. Não importa como os homens queiram chamá-la, não pode ser a igreja do Deus vivo.

O conceito de igreja como uma instituição que se autoperpetua é apavorante. Capaz em si mesma de se manter e existir como organização, porém destituída da presença de Deus, torna-se inimiga de todos os propósitos de Deus. Torna-se naquele cadáver mencionado acima, um corpo sem o fôlego de vida. Mas a qualidade de absurdo ou grotesco desta figura se transforma em algo verdadeiramente horripilante, pois este cadáver ainda anda, locomove-se, e fala. Ilude os homens a pensar que ainda representa Deus. Na verdade, grotescamente deturpa sua imagem.

O que, então, podemos dizer da igreja? Somente isto, que como auto-expressão de Deus, “ela é o que é”. Ou talvez o melhor seria dizer: “ela é o que Deus é”. A igreja é totalmente vinculada a Deus. Sem o seu fôlego, morre. É quando Deus fala que a igreja toma sua forma e semelhança. É pela Palavra de Deus que ela se torna o que ele é. E isto é um processo contínuo: Deus falando, e a igreja ouvindo e correspondendo. É somente desta maneira que a igreja pode ser o que Deus quer que ela seja, e cumprir sua vontade na terra.

Jesus concede temível autoridade à igreja. A partir da sua ênfase no direito e dever da igreja de tratar com o pecado no meio dela, ele mostra que a igreja tem todo poder no céu e na terra. Para exercer tal poder, ela somente precisa “concordar” e “pedir”. E pode ser até com dois crentes que se unam desta maneira. Mas a base crucial de tudo isto é ter dois ou três que reúnam em Jesus. A ênfase está em Deus reunir o povo, e o propósito de tal reunião é entrar na pessoa de Jesus.

Somente este chamamento e mover divinos trarão a promessa de Jesus estar no nosso meio. E como vimos, tal ação divina inevitavelmente relaciona-se com sua Palavra. É quando ele fala que vemos Jesus. É através de sua voz que somos chamados. É através de sua Palavra que somos comissionados e atraídos à experiência de seu Filho. É em relacionamento vivo com Jesus que temos sua autoridade para desligar e ligar. A igreja existe para entrar em Jesus, e isso acontece pela Palavra viva procedente de Deus.

Prédio ou Pessoas?

Muitas vezes se tem dito que a igreja não é um prédio, mas são as pessoas. Sugiro que esta declaração seja verdadeira, porém inadequada. Verdadeira, porque tira nossa atenção dos tijolos e argamassa, e a dirige para a verdadeira casa de Deus, constituída de homens e mulheres. Mas inadequada, porque podemos ver a igreja como pessoas e mesmo assim ter uma instituição. Talvez, para nós, as pessoas que constituem “a igreja” devam concordar com um credo específico. Talvez devam praticar certas coisas, ou ter determinada estrutura e liderança. Talvez devam reunir-se de maneira específica.

Se esta é nossa visão de igreja, podemos dizer o quanto quisermos que ela consiste de pessoas e não de prédios, mas ainda assim temos um conceito institucional. Nossa visão é sectária; divide-se na base de assentimento a um determinado conjunto de credos ou práticas. Alguns tentam responder à questão acima com uma definição geral como: “A igreja consiste de todos os regenerados”, mas na prática só aceitam pessoas em uma das bases citadas acima, e acabam sendo sectários da mesma forma.

Devemos ver a igreja como um povo em correspondência ativa e atual ao Deus vivo. Sempre está ligada a um propósito, não a credos fixos, formas predeterminadas, ou modelos de culto prescritos. É a prática que é importante, não a teoria. Somente através de ouvir e praticar o que Deus está dizendo é que um povo pode representar seu nome. Tal povo é totalmente vinculado a Deus, sem segurança humana nem religiosa. Vivem pela palavra que sai da sua boca; morreriam sem isto. Não têm uma estrutura inflexível, ou que se autoperpetua. Podem ser descritos como povo profético, pois são completamente dependentes da palavra profética de Deus.

Extraído da Série: “Profetas e Profecia” nº 04.