quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

A Igreja… Sua Natureza

Por: John MacLauchlan

Se temos algum entendimento da natureza da Palavra de Deus e da igreja, não será uma surpresa ouvir a afirmação de que as duas são intrinsecamente ligadas. Na verdade Jesus é o Verbo de Deus, e a igreja é o seu corpo. Conseqüentemente, temos que entender o que Jesus é para saber o que a igreja é. E se Jesus é o Verbo, isto significa que devemos entender melhor o que é o Verbo para entender a igreja.

O Verbo, ou a Palavra, é a vontade de Deus expressa ao homem, mas mais do que isto, encarnada no homem. Jesus, além de ser a Palavra expressa de forma mais completa e total do que em qualquer manifestação anterior no Velho Testamento, era a Palavra habitando e vivendo plenamente numa pessoa humana. Da mesma maneira, foi a Palavra de Deus que trouxe à existência um povo, encarnando-se outra vez, e criando a igreja na mesma imagem daquele que era a Palavra de forma singular. Assim, a Palavra de Deus torna-se a igreja, e a igreja não é igreja sem esta Palavra.

Vejamos como isto se revela no Novo Testamento. Quando Paulo chamou os tessalonicenses a orar “para que a palavra do Senhor se propague e seja glorificada”, ele certamente não estava pensando na proliferação de idéias ou doutrinas. Pelo contrário, estava consciente de que estava se dirigindo àqueles que eram o resultado visível desta Palavra. Eram a palavra encarnada; sua expressão concreta. Paulo lhes falara a palavra vivificante de Deus e foram regenerados. Falou a palavra diretiva e construtiva de Deus e foram moldados num povo para Deus. Isto acontecera inacreditavelmente rápido em Tessalônica. Paulo agora exortava a orar por triunfo semelhante e resultados imediatos em outros lugares.

A Palavra e a Igreja são Uma

Claramente para Paulo, a igreja se origina da Palavra de Deus. Se a Palavra é a auto-expressão de Deus, a igreja também o é. Através dela, Deus fala aos homens. Podemos ver esta mesma ligação em outros lugares. “A igreja, na verdade, tinha paz por toda a Judéia, Galiléia, e Samaria, edificando-se e caminhando no temor do Senhor e, no conforto do Espírito Santo, crescia em número” (At 9.31). Compare isto com Atos 6.7: “Crescia a palavra de Deus e… se multiplicava o número dos discípulos…”

Em outro lugar é simplesmente: ” … a palavra de Deus crescia e se multiplicava” (At 12.24), e em ainda outro: “… a palavra de Deus crescia e prevalecia…” (At 19.20). O crescimento da igreja é atribuído à Palavra. A Palavra e a igreja são uma. Estas passagens falam sobre o desenvolvimento e crescimento da auto-expressão de Deus na terra. Mais e mais, ele tem um povo em quem pode viver e através de quem pode revelar como ele é.

A implicação é clara. A igreja é totalmente dependente da palavra profética. Sem esta palavra, ela cessa de ser a igreja do Deus vivo. Separar a Palavra da igreja é o mesmo que retirar o espírito do homem: resta apenas um cadáver.

O pico culminante da auto-expressão de Deus é Jesus. Ele encarnou e revelou perfeitamente tudo que Deus é. Nele o Deus invisível é visto pelos homens. Mas Paulo chama a igreja “corpo” de Jesus, o que seria sua auto-expressão. Em Efésios 1.23, vai mais além, e a descreve como a “plenitude” de Jesus, um termo usado no grego para o carregamento de um navio, ou o conteúdo total de uma embarcação. A igreja contém, encarna, e é plena de Cristo.

Nisto tudo, Paulo não está se referindo ao tempo em que Jesus andou na terra em um corpo mortal. Antes, descreve-o exaltado e supremo sobre todos os seus inimigos, enchendo o universo com sua grandeza. A igreja é a encarnação e expressão na terra do Rei dos reis. É a “plenitude daquele que a tudo enche em todas as coisas” (Ef 1.23).

Jesus é a Palavra de Deus. A igreja o encarna e expressa. A Palavra triunfante de Deus, exaltada e glorificada, vive em seu povo. Este povo não é chamado à existência para exemplificar uma cópia religiosa de Cristo. São criados como aqueles em quem ele vive. São seus filhos e filhas. São a expressão de Deus na terra.

Não Existe uma “Planta” Para a Igreja

Deus se recusa a ser limitado pelo homem. Não será restringido pelas limitações de conhecimento ou teologia humanos. Não será condescendente com as exigências do intelecto humano. Reserva a si mesmo a liberdade pessoal que é legítima somente para quem é supremo.

Questionado sobre sua definição de si mesmo, respondeu: “Eu sou o que sou”.

Conclui-se que um povo designado a expressá-lo não pode ser limitado a uma forma preestabelecida ou desenvolver-se segundo as linhas de uma planta predeterminada. Não pode haver um “padrão” para a igreja. Um corpo estruturado de acordo com algum padrão ou restrito àquilo que surgiu daquilo que se chama ortodoxia histórica, será meramente uma instituição religiosa humana. Não importa como os homens queiram chamá-la, não pode ser a igreja do Deus vivo.

O conceito de igreja como uma instituição que se autoperpetua é apavorante. Capaz em si mesma de se manter e existir como organização, porém destituída da presença de Deus, torna-se inimiga de todos os propósitos de Deus. Torna-se naquele cadáver mencionado acima, um corpo sem o fôlego de vida. Mas a qualidade de absurdo ou grotesco desta figura se transforma em algo verdadeiramente horripilante, pois este cadáver ainda anda, locomove-se, e fala. Ilude os homens a pensar que ainda representa Deus. Na verdade, grotescamente deturpa sua imagem.

O que, então, podemos dizer da igreja? Somente isto, que como auto-expressão de Deus, “ela é o que é”. Ou talvez o melhor seria dizer: “ela é o que Deus é”. A igreja é totalmente vinculada a Deus. Sem o seu fôlego, morre. É quando Deus fala que a igreja toma sua forma e semelhança. É pela Palavra de Deus que ela se torna o que ele é. E isto é um processo contínuo: Deus falando, e a igreja ouvindo e correspondendo. É somente desta maneira que a igreja pode ser o que Deus quer que ela seja, e cumprir sua vontade na terra.

Jesus concede temível autoridade à igreja. A partir da sua ênfase no direito e dever da igreja de tratar com o pecado no meio dela, ele mostra que a igreja tem todo poder no céu e na terra. Para exercer tal poder, ela somente precisa “concordar” e “pedir”. E pode ser até com dois crentes que se unam desta maneira. Mas a base crucial de tudo isto é ter dois ou três que reúnam em Jesus. A ênfase está em Deus reunir o povo, e o propósito de tal reunião é entrar na pessoa de Jesus.

Somente este chamamento e mover divinos trarão a promessa de Jesus estar no nosso meio. E como vimos, tal ação divina inevitavelmente relaciona-se com sua Palavra. É quando ele fala que vemos Jesus. É através de sua voz que somos chamados. É através de sua Palavra que somos comissionados e atraídos à experiência de seu Filho. É em relacionamento vivo com Jesus que temos sua autoridade para desligar e ligar. A igreja existe para entrar em Jesus, e isso acontece pela Palavra viva procedente de Deus.

Prédio ou Pessoas?

Muitas vezes se tem dito que a igreja não é um prédio, mas são as pessoas. Sugiro que esta declaração seja verdadeira, porém inadequada. Verdadeira, porque tira nossa atenção dos tijolos e argamassa, e a dirige para a verdadeira casa de Deus, constituída de homens e mulheres. Mas inadequada, porque podemos ver a igreja como pessoas e mesmo assim ter uma instituição. Talvez, para nós, as pessoas que constituem “a igreja” devam concordar com um credo específico. Talvez devam praticar certas coisas, ou ter determinada estrutura e liderança. Talvez devam reunir-se de maneira específica.

Se esta é nossa visão de igreja, podemos dizer o quanto quisermos que ela consiste de pessoas e não de prédios, mas ainda assim temos um conceito institucional. Nossa visão é sectária; divide-se na base de assentimento a um determinado conjunto de credos ou práticas. Alguns tentam responder à questão acima com uma definição geral como: “A igreja consiste de todos os regenerados”, mas na prática só aceitam pessoas em uma das bases citadas acima, e acabam sendo sectários da mesma forma.

Devemos ver a igreja como um povo em correspondência ativa e atual ao Deus vivo. Sempre está ligada a um propósito, não a credos fixos, formas predeterminadas, ou modelos de culto prescritos. É a prática que é importante, não a teoria. Somente através de ouvir e praticar o que Deus está dizendo é que um povo pode representar seu nome. Tal povo é totalmente vinculado a Deus, sem segurança humana nem religiosa. Vivem pela palavra que sai da sua boca; morreriam sem isto. Não têm uma estrutura inflexível, ou que se autoperpetua. Podem ser descritos como povo profético, pois são completamente dependentes da palavra profética de Deus.

Extraído da Série: “Profetas e Profecia” nº 04.

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