sexta-feira, 19 de agosto de 2011

SÉRIE PROFETAS E PROFECIAS Nº 2




O PROFETA ELIAS
Por John Maclauchlan
O significado de Elias para nós transcende em muito a extensão aparente do pequeno
trecho do Velho Testamento (1 Rs 17 a 2 Rs2) que contém a sua história. Há várias
características totalmente singulares neste homem. Ele nos é apresentado com estatura
completa, sem introdução alguma a respeito do seu passado e preparação. A expressão
familiar: “A palavra do Senhor veio a...” está ausente, e no lugar disso vemos Elias
decretando uma seca pela sua própria palavra ( 1 Rs 17:1). Claramente temos nele um
profeta entre os profetas, alguém que está consciente que sua palavra e a palavra de Deus
são inseparáveis.
Malaquias se refere a Elias como precursor do Senhor (Ml 4:5), e Jesus disse que
João Batista, a quem ele chamou de maior entre os homens, era “Elias que estava para vir”
(Mt 11:14). Elias representa todo o corpo profético quando aparece com Moisés junto a
Cristo na sua transfiguração (Mt 17:3). Outra vê junto com Moisés, as características de
Elias são claramente percebidas na companhia trará um testemunho profético para a terra e,
ao entrar na ressurreição do corpo, liberará o reino de Deus entre os homens (Ap 11:11-17).
O elo entre Elias e Moisés é visto de muitas maneiras, e não se deve esquecer que
ambos eram profetas. Talvez maior elo, entretanto, seja que coube a Elias restaurar a
teocracia que Moisés fundou em Israel (1 Rs 18:30-39).
Podemos concluir que Elias permanece como figura dos profetas de Deus de todas as
gerações, e especialmente dos tempos de restauração designados a inaugurar o governo de
Deus na terra. Ele é também claramente uma figura da companhia remanescente do tempo
do fim que há de realizar essa liberação e vitória. Assim, ao examinarmos suas
características, estamos procurando homens e igrejas com essas mesmas características
nos nossos dias.
As características básicas de Elias nos são comunicadas mui enfaticamente na
própria frase pela qual ele nos é apresentado (1Rs 17:1). Ele tinha uma convicção inabalável
que Deus vive. Esta convicção era baseada, não em teoria teológicas, mas em experiência
pessoal. Desta forma, ele encarna a realidade do Deus vivo no seu próprio ser, e comunica
esta realidade ao povo de Deus. Mesmo na hora do seu desespero pessoal, Deus chegou a
ele de forma palpável, e não lhe permitiu escapar dessa realidade fundamental (1 Rs 19:10-
12). A realidade de Deus é a marca registrada do profeta. Trazer o Deus vivo ao seu povo é
a essência da vocação profética.
Em virtude desta consciência da existência de Deus, Elias estava “perante a sua
face”, isto é, deliberadamente o servia e vivia constantemente na sua presença. Ele estava à
disposição de Deus em todo o tempo; o propósito da sua vida era fazer a vontade de Deus.
Conseqüentemente, havia uma intimidade com Deus, e Deus orientava sua vida detalhe por
detalhe (1 Rs 17:3,4). Deus supria suas necessidades e providenciava recursos
sobrenaturais para a sua vida (1 Rs 17:5,6). Como Elias, o profeta experimentará a direção e
a provisão de Deus enquanto o serve. Desenvolverá uma dependência consciente de Deus
em todos aspectos da vida. Conhecerá épocas de solidão com Deus, e ao mesmo tempo
estas épocas liberarão nele grande poder para ação. É talvez o clímax da vocação profética


chegar ao lugar onde não há distinção entre a palavra de Deus e a do profeta. Como já
afirmamos, Elias nos é apresentado nesta estatura. Isto exemplifica tão claramente a
autoridade do profeta, agindo em nome do Senhor. Encontramos o mesmo em Ageu, onde
“a voz de Iavé” e as “palavras do profeta Ageu” são equiparadas, porque “Iavé... o tinha
mandado” (Ag 1:12).
Mas a base desta grande autoridade era uma experiência total com a palavra de Deus
e uma subordinação a ela. A palavra de Deus vem ao profeta (1 Rs 17:2). Ele realmente
ouve de Deus e não confia nos substitutos da sabedoria, experiência, treinamento ou
conhecimento. Ele não “prepara uma palavra”, mas ele tem a palavra de Deus. Isso é
absolutamente fundamental, pois se baseia na própria natureza de Deus e é essencial ao
cumprimento do seu propósito.
Deus cria pela sua palavra. Tudo que vemos é Deus se expressando (Gn 1). Ele criou
o homem como o aspecto mais alto desta expressão de si mesmo, na sua própria forma de
aparência (Gn 1:26). O homem foi designado a viver pela contínua auto-expressão de Deus
(Mt 4:4), da mesma forma que a criação é sustentada por ela (Hb 1:3). Viver ouvindo e
obedecendo à palavra de Deus é o contrário de independência e pecado. É o contrário de
planejar seu próprio curso confiando num discernimento pessoal do bem e do mal. O
elemento profético é essa progressiva auto-expressão de Deus, dirigindo e ativando o seu
povo para o seu alvo.
Portanto, se o profeta não ouvir a voz de Deus (seja ela tranqüila e suave como for) (1
Rs 19:12), ele não será profeta de Deus, não importa que outras manifestações ele venha
experimentar. Mas não devemos exteriorizar a palavra de Deus; não devemos ser
literalistas. É uma questão de espírito e vida (Jo 6:63). Elias recebeu direções pela palavra
de Deus (1 Rs 19:15-17), mas não cumpriu literalmente esta palavra. Ele designou (não
“ungiu”) Eliseu e Eliseu cumpriu as comissões a respeito de Jeú e Hazael (2 Rs 8,9). Só Jeú
foi literalmente ungido e Eliseu não “matou” ninguém literalmente.
Semelhantemente, no caso de Acabe (1 Rs 21:17-29), a palavra de Deus é vista
como a declaração do seu intento (cf. Jonas), e é modificada de acordo com a
correspondência que ela recebe. O profeta não é um clarividente, pois o futuro ainda não
aconteceu. Ao contrario, ele declara a palavra criativa de Deus e desta forma molda e forma
o futuro. O tempo não é uma ilusão – é um fator real.
Ao anunciar a seca (e a fome conseqüente), Elias falava do seu espírito, sem referirse
a expectativas ou possibilidades naturais. Suas possibilidades eram as possibilidades de
Deus, a sua visão era a visão de Deus. A base deste anúncio era a comunhão com Deus
que já mencionei (cf. Tg 5:17). Desta forma, o profeta vai além do evidente. Ele não aceita
as circunstâncias como inevitáveis ou inalteráveis, mas vê acima delas à vontade de Deus.
Como Elias com o filho morto da viúva, ele sabe que elas podem ser transformadas, por
mais impossível que pareçam (1 Rs 17:17).
Às vezes, pode ser necessário o profeta buscar a Deus repetidas vezes para ver
mudança de eventos (1 Rs 17:21). Estes não irão necessariamente mudar de maneira
automática na sua presença, mas ele terá que ativamente produzir a mudança.Sabendo o
que Deus deseja, ele traz o poder dele para agir na situação. Pelos resultados obtidos, seu
ministério é reconhecido como sendo válido (1 Rs 17:24). A verdadeira prova de um profeta
é se sua palavra se cumpre (cf. Dt 18:18-22), isto é , se ela criativamente molda o futuro. A
prova não é a capacidade de prever, mas o poder para produzir resultados. A palavra de
Deus é acontecimento; “Haja...e houve”.

Por ver o invisível, e discernir a atividade e a intenção de Deus, o profeta anuncia em
fé antes do acontecimento (1 Rs 18:41). Ele faz acontecer na terra aquilo que viu no invisível
(1 Rs 18:42-46). Assim como a palavra de Deus trouxe à existência a criação material,
tirando-a do nível invisível (Hb 1:3), assim o profeta traz mais do céu para a terra. Seu
objetivo é ver a vontade de Deus feita na terra assim como é feita no céu.
Essas são as características básicas de Elias e conseqüentemente dos profetas e
povo profético envolvidos no seu ministério de restauração . Mas há muitas outras lições a
serem aprendidas com Elias. Ele é um exemplo muito claro de liderança profética. Ele exigia
correspondência a si daqueles que estavam ao seu redor, a liberação do efeito da sua
palavra e a libertação resultante (1 Rs 17:13,14). O profeta freqüentemente precisa afirmar a
necessidade de ser atendido antes de cuidar dos planos, idéias, desejos e necessidades
pessoais dos outros. Mas ele sabe que Deus, então, irá prover para aqueles que ouvem,
honram e servem ao seu porta-voz.
Embora conclame o povo à total fidelidade a Iavé (1Rs 18:21), ele não tem receio de
chamar o povo para aproximar-se de si mesmo para ouvir o que Deus tem para dizer (1 Rs
18:30). Isso faz nos lembrar das palavras de Paulo: “Sede meus imitadores, como também
eu o sou de Cristo” (1 Co 11:1). Em tudo isso, sua motivação é que Deus seja conhecido, e
que ele seja reconhecido simplesmente como o servo de Deus, como alguém que agiu
conforme o mandamento de Deus (1 Rs 18:36).
Por personificar e exemplificar a liderança que Deus deseja, ele entra em conflito e
confrontação com a liderança falha ou falsa do povo de Deus (1 Rs 18:17 ; 2 Rs 1:3).
Trabalha com líderes (como Ageu e Zacarias que dirigiram a Josué e Zorobabel), nutrindo e
instruindo-os. Sabe que a função executiva na igreja pertence a Deus, e que Deus a
expressa através dos seus profetas (Am 3:7).
A profunda preocupação do seu coração é pelo povo de Deus, pois para ele a sua
função é restaurá-lo e libertá-lo ( 1 Rs 18:31). Ele traz a palpável presença de Deus para
eles ( 1 Rs 18:22-24), e dirige-os na erradicação da religião falsa ( 1 Rs 18:40 ). Derruba a
idolatria do sectarismo e da adoração por credos, e expõe a mentira da ortodoxia.
Ele não está acima da experiência de ver a pressão das circunstâncias abrir o
caminho para a direção de Deus ( 1 Rs 17:7,8 ). Mas ao perder sua perspectiva ( 1 Rs 19:10
), ele experimenta a persistência de Deus em acompanhá-lo através da sua fraqueza e
desespero ( 1 Rs 19:5-8 ). Até mesmo a maneira como Deus o liberta é profética ( pois cada
detalhe da sua vida serve para exemplificar a vontade de Deus ). Os quarenta dias que
foram preparatórios para a sua chegada na “caverna”, e a sua chegada na mesma caverna
de Êxodo 33:22, são acontecimentos paralelos com a vida de Moisés. No fim, Deus
restaurou a sua perspectiva e percepção. Capacitou o sue vidente a ver as cosias como
realmente são ( 1 Rs 19:18 ).
Elias (como figura do remanescente profético de Apocalipse 11) foi capacitado tratar
eficazmente com todas as tentativas de findar o seu ministério ( 2 Rs 1:9-12 ). Como Jesus,
não foi possível impedi-lo de completar a obra de Deus ( 2 Rs 1:13-18 ; cf. Ap 11:5 ). O
profeta carrega uma certeza da energia e proteção de Deus, do seu destino divinamente
concedido, e de todo o equipamento necessário para cumpri-lo.
Mas o tempo se cumpriu no momento exato, e Elias foi orientado sobre o seu
sucessor ( 1 Rs 19:16; 19:19-21 ). Muita ênfase precisa ser dada ao comissionamento,
SÉRIE PROFETAS E PROFECIAS Nº 2
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liberação e treinamento de outros, como ocorreu na retirada de Elias e na liberação de
Eliseu ( 2 Rs 2 ). À vontade de Deus é um dinamismo contínuo, a liberação progressiva de
algo maior ainda, até que surja a geração que consumará os seus propósitos.
Olhando adiante para esta consumação, vemos que a hora está chegando quando o
santuário de Deus alcançará uma estatura mensurável ( Ap 11:1 ). O átrio exterior será
lançado “fora” e “calcado aos pés”, o mesmo destino que Jesus descreveu para o sal que
perdeu seu sabor. Neste contexto, um ministério com as mesmas características de Moisés
e Elias será liberado na terra.
Esta companhia profetizará, declarando a palavra e a vontade de Deus, e seu juízo
iminente ( Ap 11:3 ). Servirão a Deus como “os filhos da oliveira” ( Ap 11:4; cf. Zc 4:14). São
invencíveis ( Ap 11:5 ) e trazem os juízos de Deus para a terra ( Ap 11:6 ). Quando
houverem terminado o seu testemunho, como aconteceu com o seu mestre antes deles,
passarão através da morte para a ressurreição ( Ap 11:7-12 ). Dessa forma liberarão o reino
de Deus na terra ( Ap 11:15 ).
Se quisermos crer nisso, Deus está agora (mais uma vez) enviando o profeta Elias
antes do seu grande e terrível dia. A obra de restauração do povo de Deus está começando
agora. A promessa da consumação está para se cumprir. Que esta geração seja a que vai
realizar a vontade de Deus. Que o propósito de Deus, conforme revelado em Elias, seja
cumprido!
JESUS O PROFETA
Por John Maclauchlan
A natureza do ministério profético de Jesus é de profunda importância para qualquer
pessoa com chamamento profético. Se quisermos continuar de alguma forma o que Jesus
começou a fazer e ensinar ( At 1:1,2 ), precisaremos compreender como era realmente o
seu ministério. Só então poderemos entrar no dignificado dele para só hoje. Será de primeira
importância a visão que Jesus tinha de si mesmo e da sua função, pois esta não é
necessariamente idêntica às opiniões que os outros tinham dele.
Por muito tempo enfatizado a continuidade que existe entre o Velho e o Novo
Testamentos, e entre o ministério profético dos dois. Não houve uma cessação repentina de
profecia vetero-testamentária, seguida por um silêncio e finalmente o começo de uma forma
totalmente distinta de profecia neotestamentária. Isso fica muito evidente se partirmos da
natureza de Deus como um Deus que fala. Ele nunca deixou de agir assim. O registro
histórico não sustenta a opinião que a profecia em época alguma tenha morrido. Mesmo
sem tal evidência, poderíamos basear nossa confiança na continuidade da profecia por ser
isto um aspecto essencial da natureza revelada de Deus.
Não podemos, então, fazer uma divisão entre profecia do Velho e do Novo
Testamentos, mas devemos rejeitar a obsessão dispensacionalista em destruir a
continuidade que é a característica singular de um Deus que é constante. Contudo, há uma
certa distinção entre profecia do Velho Testamento e profecia do Novo. Há algo a mais, algo
novo, no Novo Testamento. Isso não nos deve surpreender, pois Jesus veio e trouxe aos
homens algo superior àquilo que já tinham experimentado. Sustentamos a ênfase na
continuidade entre o Velho e o Novo Testamentos, mas neste artigo pretendemos dar
atenção maior para a diferença entre a profecia antes de Jesus e o ministério profético que
foi desvendado nele e que nos foi transmitido.


É evidente através dos evangelhos sinópticos que Jesus era popularmente
considerado um profeta. Alguns achavam que era um João Batista ressuscitado, e
freqüentemente era descrito como profeta, ou um dos profetas ( Mc 6:15; 8:28; Mt 16:14; Lc
7:16,39; 9:8,19 ). Jesus reconheceu este conceito de si mesmo quando se referiu à rejeição
de um profeta no seu próprio território ( Mc 6:4; Mt 13:57; Lc 13:33 ); mas não há nenhum
indício que ele endossava plenamente os conceitos que o povo tinha a seu respeito em
nenhuma dessas passagens. Ele foi saudado como profeta quando entrou em Jerusalém (
Mt 21:11 ). Os fariseus foram impedidos de prendê-lo por causa da aclamação de profeta
que recebeu das multidões ( Mt 21:46 ).
A despeito de toda essa aclamação, Jesus não enfatizava seu papel profético, nem o
faziam os seus discípulos; não houve um caso onde eles endossassem o que foi dito. As
atribuições do povo nunca foram usadas por eles. A razão disto pode ser encontrada na
natureza da expectativa escatológica dos judeus. Esperavam um profeta no tempo do fim
que fosse um sinal do reino de Deus que estava para vir, que fosse uma voz expressando a
palavra do reino e que levasse o propósito de Deus a cumprir-se. Entretanto, aclamar Jesus
como tal seria perder sua transcendência e majestade; seria diminuir o seu papel. Por essa
razão, embora o povo saudasse Jesus como “o profeta”, ele próprio aplicou este título
categoricamente a João Batista. João era o mensageiro enviado por Deus para preparar o
caminho do Senhor ( Mt 11:10 citado de Ml 3:1 ); João era Elias que havia de vir ( Mt 11:14 ).
MAIOR QUE JOÃO
Além disso, Jesus enfatizou que João era o maior de todos os homens antes dele,
mas o menor no reino dos céus é maior do que ele! ( Mt 11:11 ). João era mais que um
profeta, porém o ministério profético que existe em Jesus transcende o de João, assim como
João transcendeu a todos que foram antes dele. Jesus trouxe o reino de Deus aos homens;
o ministério profético que faz parte da expressão deste reino é maior do que todos os seus
antecessores. Mas essa grandeza transcendente está enraizada na pessoa e
transcendência de Jesus, e não na superioridade pessoal do profeta individual. O indivíduo
pode não ser maior que Elias, mas o papel, função e expressão o serão, pois que emanam
do torno do Cristo de Deus ( Ef 4:10,11 ).
Em Atos 3 e 7, as palavras de Moisés registradas em Deuteronômio 18:18,19 são
aplicadas a Jesus. Mas a referência original sem dúvida era a Josué como sucessor de
Moisés. A significância desta passagem é o estabelecimento do princípio de sucessão
profética, pois foi através da imposição das mãos de Moisés que Josué foi comissionado ( Dt
34:9 ). É claro que essa sucessão não é mecânica, mas torna-se inválida se o próprio
sucessor não ouve e corresponde ao Deus vivo ( Dt 18:19-22 ).
O próprio Josué ouvia de Deus e recebia sua direção ( e a direção para o povo )
diretamente dele ( Js 1:1 ). Então por que a aplicação a Jesus? Sem dúvida porque ele é o
foco de tudo – a encarnação de tudo que Deus designou para o ministério profético e para
ser transmitido por sucessão profética. É aplicada a Jesus, pois se pode ver a realização
deste princípio nele. Ele transcende a Josué, levando um novo Israel a uma nova terra,
numa nova glória, com um novo destino.
MAIOR QUE MOISÉS
O fato de Jesus não depender de Moisés ou de qualquer outro profeta anterior, e de
ser incomparavelmente superior a todos eles, é demonstrado no relato da transfiguração.
Aqui os dois maiores profetas do Velho Testamento são totalmente ofuscados por ele, e º 2

palavra de Deus é: “Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo: a ele ouvi” ( Mt 17:5
). Mais do que qualquer pessoa antes dele, aqui está alguém que precisa ser ouvido.
Rejeitá-lo é estar fora do povo de Deus ( At 3:23 ).
Não podemos, portanto, limitar Jesus à expectativa profética dos judeus. Ressoava
nos ouvidos deles a profecia de Malaquias de alguém que viria preparar o caminho do
Senhor. Ao declarar que este era o papel de João, Jesus declarava implicitamente que ele
era o Senhor, Iavé, cujo caminho fora preparado. Ao dizer que João era mais que um
profeta, Jesus se declarava como muito mais que um profeta. Ele transcendia o ministério
profético conforme até então fora conhecido.
ELE É O VERBO
Jesus é “o Verbo” ( Jo 1:1 ), não “o profeta”! Ele não somente profere a palavra, ele é
a palavra! Ele inaugura a era de encarnação profética. Muitos profetas e homens justos
ansiaram por esses dias, pela substância e manifestação daquilo que sentiam tão
fortemente nos seus espíritos. Mas Jesus não anseia pó isso; ele o encarna. Estando entre
os homens, ele disse: “O reino de Deus está entre vós”. Ele é o rei. Ele não é um
proclamador de esperança ou de predições, mas é ele próprio a concretização expressa por
toda verdadeira profecia, e para qual toda profecia aponta. Daí as Escrituras: “Todos os
profetas... profetizaram até João” ( Mt 11:13 ); “ Começando por...todos os profetas ( Jesus )
expunha-lhes o que a seu respeito constava em todas as Escrituras” (Lc 24:27,44).
CRIANDO UM NOVO ISRAEL...
Jesus inaugurou um novo Israel e um novo ministério profético. O povo e os profetas
não mais simplesmente predizem alguma coisa, mas são a encarnação e expressão do
reino de Deus. Desta forma, profecia neotestamentária é muito mais positiva na sua ênfase
geral do que o seu paralelo no Velho Testamento, que raramente falava de paz ( exceto num
contexto de predição futura ), mas mais freqüentemente falava de juízo ( Jr 28:8 ). Um povo
e um ministério que receberam a glória de Deus ( Jo 17:22 ), que receberam sua comissão
do trono de Cristo ressuscitado ( Ef 4:10,11 ), falam com uma nova nota de autoridade,
alicerçada em realização e realidade. Antes de Jesus, todos os profetas diziam: “Isto é o que
o Senhor diz...”, mas Jesus afirma: “Mas eu vos digo... Ouvistes que Moisés disse... mas eu
digo...” E agora falamos no nome e pela realidade espiritual daquele que assim disse. É
interessante que Elias, que se estendeu na sua confiança para declarar que eventos
ocorreriam “segundo a minha palavra”, é um dos dois homens registrados no Velho
Testamento como arrebatados por Deus em provar a morte, e é claramente reconhecido ao
lado de Moisés como o maior dos profetas do Velho Testamento.
Uma passagem crucial a toda esta questão do papel de Jesus e do conceito de si
mesmo que ele desejava nutrir entre os seus discípulos, é Mateus 16. A própria familiaridade
desta passagem torna facial perdermos algo de importante; percepções anteriores podem
cegar os olhos para revelação presente, ou até para ver o que é óbvio! Jesus interroga seus
discípulos sobre as opiniões populares a sue respeito ( v.13 ). A resposta deles abrange a
extensão da expectativa dos judeus: Jesus é tido como sendo Elias ou Jeremias ou um dos
profetas ( v.14 ). Em seguida perguntou o que eles, que estavam mais perto dele, diziam a
seu respeito. Falando do seu coração, Pedro explodiu: “Tu é o Cristo, Filho do Deus vivo!” (
vs.15,16 ). Jesus reconheceu isto como revelação de Deus, e um alicerce sobre o qual podia
edificar ( vs.17-19 ). O povo esperava um profeta escatológico, mas a confissão de Pedro é
de algo muito maior que qualquer profeta. A igreja é edificada neste conhecimento de Jesus


como o Cristo, o Filho de Deus. Seu ministério profético parte de um novo lugar de
revelação, realidade e glória.
Assim, enfatizar Jesus como profeta pode obscurecer sua verdadeira identidade. Foi
precisamente porque o elemento judaico na igreja primitiva nunca ultrapassou a tradicional
expectativa dos judeus, e continuava a aplicar essa expectativa a Jesus, que isto se tornou
um obstáculo ao progresso na igreja. De fato, de acordo com algumas pesquisas modernas,
os judaizantes legalistas combatidos por Paulo desenvolveram-se num corpo que negava de
tal forma a superioridade transcendental de Jesus, que sua ênfase no “profeta” deu origem
ao islamismo! Imagine – o maometismo pode ter suas raízes numa cristologia desviada!
...E UM NOVO MINISTÉRIO PROFÉTICO
O fato de Jesus encarnar algo novo está claro: que ele inaugurou um novo ministério
também deve estar claro. Ele é o Israel de Deus retirado do Egito ( Mt 2:15 ), que então
amplia de si mesmo um novo Israel. Ele escolheu um novo grupo de doze para encabeçar
uma nova nação, estabeleceu esta nação após sua ressurreição, e derramou a grande
promessa a Israel, o dom do Espírito, sobre ela. Do sue trono, ele continua a agir e a falar
em e através deste novo povo. Ele é quem concede profetas, homens de visão e revelação,
homens de encarnação e realização, homens enviados para uma nova situação, no meio de
um novo povo, com uma nova autoridade. Estes homens são enviados para mudar e
transformar vidas e igrejas, regiões e nações, para tornar visível e reconhecido o trono de
Cristo através da terra.
Profetizarão a respeito das intenções de Deus para o futuro, mas nomeio de um
contexto de declaração constante daquilo que é real nele agora. Em fé declararão: “A hora
vem...”, e em fé maior ainda acrescentarão: “...e agora é”! Trarão o invisível para a
visibilidade, os céus para a terra. Declararão que o Senhor já veio, e que todo o seu reino e
glória devem se tornar manifestos entre os homens.
O alcance da nossa expectativa deve ser mais alto que de qualquer geração anterior.
Recebamos de toda maneira possível encorajamento e estímulo do exemplo dos grandes
profetas bíblicos; somos seus descendentes e herdeiros legítimos. Mas devemos nos
aventurar para entrar em novas áreas, reconhecendo que, embora nos sintamos fracos,
Deus deseja realizar mais em e através de nós do que jamais foi visto anteriormente.
Este livreto foi traduzido de uma série de artigos publicados originalmente nos números 5 e 2
da revista “Proclaim”.
Os direitos autorais pertencem a:
Andrew McFarlane,
113 Springwood
Llandeyrn, Cardiff CF2 6UE

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