terça-feira, 23 de agosto de 2011

SÉRIE PROFETAS E PROFECIAS Nº 3



SÉRIE PROFETAS E PROFECIAS Nº 3
A PALAVRA PROFÉTICA
John Maclauchlan
Por definição, o profeta fala. Mas, também por definição, o profeta de Deus é alguém
através de quem Deus fala. Ele não é profeta a fim de expressar-se a sim mesmo, antes é o
porta-voz e representante de Deus. Ele está disponível a Deus como alguém por quem Deus
pode se expressar. A palavra profética e a palavra de Deus. Não consiste de idéias,
pensamentos, sermões, lógica acadêmica ou conclusões. Se não consistir da palavra de
Deus, não poderá ser classificada como “profética”.
O que é, então, a palavra de Deus? Para cada um de nós, palavras são meios de
auto-expressão. Isto também se aplica ao Deus que nos criou. Ao falar ele se expressa. Sua
palavra então encarna sua vontade e desejos, e de fato sua própria natureza. Transborda
também do seu poder e contém em si mesma sua energia criativa. Assim, na criação, Deus
disse: “Haja...” e houve! O Deus vivo determinou expressar-se numa nova dimensão, e
trouxe à existência todo o universo material. Ele o fez pela sua palavra. Já que constituem
um aspecto da sua auto-expressão, não é de se admirar que “os céus proclamam a glória de
Deus”. Se considerarmos a criação, veremos que palavras para Deus são dispendiosas.
Evolvem consumo de energia, de criatividade, e até mesmo do seu próprio ser. A extensão
total deste dispêndio foi revelada quando Deus nos falou no seu Filho. Neste ato de
redenção Deus expressou seu amor através da própria morte. Verdadeiramente Jesus á a
Palavra de Deus.
Em contraste, para o homem atual em nosso mundo ocidental as palavras são
baratas. Elas o bombardeiam de todos os lados, em livros, jornais, televisão, rádio, no ruído
da vida cotidiana. Chegam a ele com uma atitude de: “aceite ou rejeite”. Ele tem a opção de
retê-las ou ignorá-las, conforme desejar. Ele recebe as palavras como informação, como se
elas fossem suas servas. Não contêm vida alguma. Não produzem resultados. Ao perder o
impacto criativo das palavras, o homem moderno se empobreceu.
De fato, se tudo o que o homem ouve são suas próprias palavras, e se
constantemente deixa de ouvir o que Deus está dizendo, não fica ele apenas mais pobre, na
verdade ele já está morto! O homem vive pelo ouvir o que Deus está continuamente
dizendo. O verbo “procede” em Mateus 4:4 é originalmente o mesmo que “sai” em
Apocalipse 22:1. As palavras de Deus são vistas como um fluir contínuo, semelhante ao rio
que flui do seu trono. São tão essenciais para a vida humana quanto o seu alimento.
Por causa do alto preço das suas próprias palavras, Deus quer que o homem as trate
com a importância que merecem. Ele não deve falar levianamente ( Mt 12:36 ). Pela sua
palavra Deus tanto criou ( Hb 11:3 ) como sustenta ( Hb 1:3 ) o universo até hoje. O homem,
como ápice da auto-expressão de Deus, feito na sua forma e semelhança ( Gn 1:26 ),
precisa constantemente ouvir e obedecer a essa palavra. Fazer assim é parte de sua própria
vida. É morte para ele deixar de o fazer. Deus está constantemente falando “hoje”; o destino
do homem sempre dependa da sua resposta ( Hb 3,4 esp. 3:15 ).
Há um conceito errado muito generalizado hoje a respeito da natureza da palavra de
Deus. Alguns dizem que para ouvi-la só é necessário ler a Bíblia. Outros dão a entender que
a palavra de Deus são meras informações e diretrizes para a vida. Mas como já vimos, a


palavra de Deus flui constantemente e é poder. Simplesmente ler a Bíblia é insuficiente, seja
qual for sua utilidade para nos ajudar a compreender os caminhos de Deus. Precisamos
conhecer o Deus que realmente fala; precisamos ter uma experiência com a palavra
profética.
A fim de que isso aconteça, Deus sempre levantou porta-vozes ou profetas. Não
somente nos dias do Velho Testamento, mas depois da morte e ressurreição de Jesus ( At
1:1,2 ; Ef 4:11 ) Deus ainda está falando desta maneira. Os profetas trazem a palavra e a
direção de Deus para as igrejas, e também estimulam a resposta de cada cristão para ouvir
o que Deus está dizendo atualmente. Provocam um ambiente de fé e escuta que permite
Deus falar individualmente a cada um.
Reduzir as palavras de Deus ao nível do entendimento humano e sempre interpretálas
à luz de uma experiência humana anterior, é na verdade rebaixá-las. Elas encarnam os
pensamentos de Deus e expressam os seus caminhos, não os do homem. São mais
elevadas que as palavras do homem. Devem ser recebidas como realmente são: a criativa
auto-expressão de Deus. Quando os discípulos tropeçaram nas palavras de Jesus sobre o
que comer e o beber dele próprio, Jesus disse que suas palavras eram “espírito e vida” ( Jo
6:63 ). A experiência e a sabedoria natural dos homens não conseguiam compreender como
se poderia comer e beber alguém que estava ali, intacto, diante deles. Mas aquele que
falava viera de cima ( Jo 6:62 ), e suas palavras precisavam ser compreendidas como
palavras que transcendiam a qualquer experiência humana anterior.
As palavras de Jesus foram designadas, não para informar, mas par comunicar.
Transmitiam vida quando recebidas espiritualmente num nível mais alto que o entendimento
mental. Ele se dispunha a explicar suas palavras, mas somente àqueles que já as tinham
recebido pela fé ( Mt 13:16-18 ). Para aqueles que não correspondiam espiritualmente às
suas palavras, ele não dava nenhuma esperança de receberem compreensão ou benefício
delas ( Mt 13:10-15 ).
É a fé ( e não o entendimento ou a sabedoria ) que consegue apreender a palavra de
Deus. A fé é que encarna essa palavra no ouvinte de modo a tornar-se parte dele ( Hb 4:2 ).
E a fé é algo espiritual. Não tem sentido nenhum se não envolve uma resposta pessoal ao
Deus vivo. Tal resposta pessoal permite ao Senhor que fala criativamente criar sua vontade
em nós pela sua palavra. Ele pode continuar falando e dessa forma continuar nos
transformando. Ele não precisa delinear diretrizes eternas para nós, pois estaremos sempre
ouvindo e obedecendo, momento após momento, em cada circunstância da vida. Seremos
dependentes e não independentes.
O pecado do homem é a independência, aquela atitude de saber e avaliar as coisas
por si mesmo ( Gn 2:17 ). A libertação do homem, possível graças ao sacrifício de Jesus,
está em render-se diante de Deus, e obedecê-lo. A fim de obedecer constantemente, ele
precisa ouvir constantemente, ele precisa ouvir constantemente. O papel do profeta é prover
e estimular este constante ouvir de Deus. Ele mesmo depende de Deus e conclama todo o
povo de Deus a semelhante dependência.
A palavra de Deus é criativa. Quando recebida corretamente, produz resultados assim
como ocorreu na criação. O recipiente da palavra de Deus precisa agir em fé, indo além do
clamor: “Como será isto?” ( Lc 1:34 ). Ele precisa reconhecer que a palavra de Deus é em si
mesma o próprio acontecimento do qual fala, “porque para Deus nada será impossível” (Lc
1:37). Como Maria, sua resposta precisa ser: “Cumpra-se em mim segundo a tua palavra”


(Lc 1:38). Essa resposta permitiu que a palavra sobre Jesus se realizasse, e daquele
momento em diante ele começou a crescer no seu ventre.
Quando os pastores ouviram o anúncio do nascimento de Jesus, disseram: “Vamos já
até Belém, e vejamos isso que aconteceu...” ( Lc 2:15 ). A palavra “isso” ou “acontecimento”
nada mais era do que a palavra dita a Maria nove meses antes, e que agora havia
“acontecido”. A palavra de Deus é acontecimento.
Esta identificação de “palavra” e “acontecimento” é evidente através das Escrituras.
Tanto é que “palavra” é usada muitas vezes em referência a um acontecimento ou evento,
como no exemplo acima. Assim em 1 Reis 11:41, os “atos de Salomão” significam
literalmente: “as palavras de Salomão”, onde o contexto se refere claramente a eventos.
“Depois destes acontecimentos” em Gênesis 15:1, que se refere a eventos históricos, no
original é: “depois destas palavras”.
“A palavra que se divulgou” em Atos 10:37 é realmente: “a palavra que aconteceu” e
se refere aos eventos da vida de Jesus. Antes em Atos 5:32, onde Pedro e os outros
apóstolos foram acusados diante do Sinédrio, eles disseram: “Somos testemunhas destes
fatos”. Estavam se referido à morte, ressurreição e exaltação de Jesus. A frase literalmente
é: “Somos testemunhas destas palavras...” Deus se expressara; estes eventos eram sua
palavra.
Neste assunto precisamos transcender o nosso condicionamento cultural do mudo
ocidental. Precisamos reconhecer que quando Deus nos fala, sua palavra é acontecimento.
Como nós a ouvimos, assim ela é. Se a recebermos em fé, teremos o conteúdo da palavra.
Os resultados podem não ser visto por algum tempo (como ocorreu no nascimento de
Jesus), mas temos o que foi dito, pela fé, desde o momento em que o ouvimos.
Assim quando Deus nos fala sobre o amor, não é para tentarmos alcançar algum
parâmetro exterior e impossível. Ao contrário, é para dar-nos seu amor; é para derramar seu
próprio amor nos nossos corações. Na própria palavra de exortação divina ao amor está a
essência espiritual deste amor. Quando a recebemos espiritualmente, pela fé, e não de
modo legalista, experimentamos o amor.
Aqui está a diferença entre o acúmulo de exigências legalistas e pressões religiosas,
e a vida em Deus. Em contraste com os legalistas designados por si mesmos, que sempre
oprimem o povo de Deus com padrões e exigências, o profeta conhece a Deus. Sabe que a
palavra de Deus é vida e acontecimento, e fala de Deus nessa confiança. Ele ouve o que
Deus está falando e o proclama criativamente, em fé, ao povo de Deus. Ele crê que o que
Deus disse há de acontecer.
Ele não se limita a aconselhar e instruir. Onde vê deficiências, ele olha para Deus. À
medida que percebe as ações de Deus e recebe a sua palavra sobre o assunto, ele
comunica vida, cura, ou algum dom espiritual para a situação. Ele literalmente transmite a
palavra de Deus, e conseqüentemente aquilo que Deus é, para os que estão em
necessidade. Transmite a resposta e a provisão de Deus. Transmite cura, liberação, paz,
alegria. Mesmo ao trazer correção e repreensão, ele procura comunicar auxílio específico
onde há correspondência a Deus.
Um povo profético sabe disso e está aberto e essa palavra, sempre na expectativa de
ouvir, obedecer e receber. Eles estão livres da condenação, pois conhecem a aceitação e o
perdão de Deus, e assim podem responder em fé. À medida que Deus lhes fala dia após dia,
recebem atitudes e maneiras de pensar. Abraçam o que Deus fala, liberando o poder da sua

palavra nas suas vidas. À medida que ouvem, sabem que já possuem, e agem
correspondentemente.
Isto não é uma técnica. Não é crença mental. Baseia-se numa certeza espiritual
interior, um senso seguro de realidades recebidas. Tudo isso ocorre no contexto de um
profundo amor por Deus e uma experiência pessoal com ele. Ninguém se esforça por
produzir resultados, nem pratica “exercícios espirituais” para implantar mudanças. Todos
vivem pela fé.
A oração deles é real, brotando de corações cheios de amor e da realidade de Deus.
Sua comunhão em torno da mesa é rica com a presença de Jesus. Seus relacionamentos
são vitais, pois têm tanta coisa para compartilhara uns como os outros. A divisão entre
atividades sagradas e seculares não tem sentido para eles. O prático e o espiritual são uma
só coisa. Servem a Deus na confiança que toda a terra lhe pertence, e toda a sua plenitude.
Assim o profeta e o povo se unem. Juntos tornam-se a encarnação da autoexpressão
de Deus. Porque ouvem sua palavra, são transformados. Porque obedecem e
correspondem, tornam-se semelhantes a ele. Porque recebem o poder inerente na sua
palavra, vencem todo obstáculo ao seu progresso. Tornam-se a forma e a aparência de
Deus na terra. Através deles Deus fala criativamente e libera a criação.
A PALAVRA PROFÉTICA E A LEI
John Maclauchlan
A ”lei” é um dos grandes temas mal compreendidos dos nossos dias. Tanto é verdade
que nossa tese básica neste artigo provavelmente entrará em choque com a maioria das
pessoas, pois afirmamos que a lei e a palavra profética são uma só coisa! A lei, sim, como
Deus a designou, e não como o homem a modificou e desenvolveu.
O fato de a profecia ser diretiva, ou seja, que não se confunde com chavões vagos,
está claro para todo leitor das Escrituras. Ela é contundente, causa impacto, corta e expõe
erros de nossos conceitos e vida. Implanta fibra nos que a recebem, ao determinar o curso
das suas vidas de acordo com a vontade de Deus. A palavra de Deus é a sua ordem, a sua
direção para o homem. Deve ser ouvida e obedecida, não apenas ouvida.
As primeiras ocorrências da palavra torah (lei) no Velho Testamento são muito
esclarecedoras. As instruções de Deus a Abraão, suas palavras de direção a ele, são
denominadas “leis” (Gn 26:5). As direções para sair do Egito são semelhantemente
chamadas “lei” (Ex. 12:49; 13:9). Entre essas primeiras ocorrências, porém, a que mais nos
esclarece esta na passagem que relata a provisão do maná. Ali ( Ex. 16:4-7 ), as direções
para o recolhimento do maná são denominadas a lei de Deus.
Assim, nestas passagens temos o esclarecimento do sentido original da palavra torah.
Ela significa as instruções específicas de Deus numa situação real. É o ensinamento ou
direção de Deus. Na verdade, a palavra em si quer dizer: “instrução, orientação,
ensinamento, direção”.
A DIREÇÃO DE DEUS...
Até mesmo a famosa promulgação da lei no monte Sinai pode ser entendida desta
forma. O povo trouxera do Egito uma bagagem de idolatria, profanações e práticas sociais
erradas. A fim de ser o povo do Deus vivo, para tornar-se uma nação governada por ele,
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teriam de abandonar essas coisas. Deus, portanto, deu-lhes as suas instrução, e ordenoulhes
o que deveriam fazer. Outra vez á a palavra de Deus com uma direção definida para
eles num momento específico da sua história. Deus nunca pretendeu que tais leis fossem
aplicadas literal e externamente como um sistema para todas as épocas, embora os desejos
permanentes de Deus possam ser discernidos e aprendidos nas entrelinhas daquelas
ordens imediatas.
Rotular Êxodo 20 de “Os Dez Mandamentos” não nos ajuda a compreendê-lo. Não é
uma expressão da realidade, assim como, não é verdade que há somente “Nove Dons do
Espírito” ou uma oração do “Pai Nosso”. Mas se pudermos, pelo menos por um pouco,
captar o conceito de um Deus vivo comunicando sua palavra e vontade para o seu povo com
um objetivo definido em vista, a identidade entre a lei e a palavra profética se tornará
clara.Deus falou e deu ordens a fim de formar de um povo díspar e confuso uma nação
unida.
Evidentemente, mais tarde a atitude do homem em relação à lei mudou. Em
consonância com as suas ações em tantas outras áreas, ele usou-a para construir um
sistema para sua própria segurança. Ao invés de receber uma direção viva de Deus, ele
passou a depender da sua observação de todo o conjunto dos mandamentos passados. A
fim de garantir que guardasse todos, ele desenvolveu um sistema complexo de interpretação
e subdivisão. Neste sistema, ele procurou abranger toda possível eventualidade da vida. Os
escribas e fariseus do tempo de Jesus eram os grandes representantes de tal conceito
legalista, e Jesus deixou extremamente clara a sua atitude em relação à perversão deles em
torcer os propósitos de Deus.
... OU SISTEMA DO HOMEM
Assim a lei começou a operar contra o propósito de Deus, ou melhor, os homens a
usaram de maneira errada, produzindo este resultado. A lei se tornou um meio para o
homem tentar alcançar a Deus, e deixou de ser a expressão do próprio Deus e de sua
direção ao homem. Deus é quem toma a iniciativa, falando e agindo para com o seu povo. O
povo de Deus compõe-se daqueles que ouvem e obedecem. Dessa forma, quem depende
de um sistema externo de regras e regulamentos não pode fazer parte do povo de Deus. A
confiança de tais legalistas é depositada em outro lugar fora de Deus: a sua segurança é
fundamentada na sua própria realização, e não na dádiva de Deus.
É a ação de Deus em Cristo que derruba toda esta falsa segurança. Em Jesus, Deus
se chegou ao homem, mostrando que o método oposto (do homem tentar alcançar a Deus)
é fútil. Em Jesus, Deus tomou o homem e o elevou à sua própria esfera, os lugares
celestiais, fazendo dele tudo o que queria que fosse. É a obra e a atividade de Deus que são
válidas. A ação independente do homem é condenável.
Mateus 5 registra a ordenação e o ensinamento específicos de Jesus em relação à
lei. Ordenação, porque subiu numa montanha, uma nova montanha, para uma nova
promulgação, a fim de formar uma nova nação. Formando conscientemente um paralelo
com Moisés no monte Sinai, ele declarou a constituição desta nova nação para aqueles que
escolhera para encabeçá-la. Um novo Israel veio a existir.
OS DESEJOS DE DEUS...
Dentro das instruções que ele deu, enfatizou que a lei de Deus não seria anulada. Isto
é precisamente porque ela encarna os princípios, vontade e desejos de Deus. As pessoas

não devem viver conforme escolhem ou pensam, independentemente de Deus, mas devem
viver de acordo com a sua direção. Tudo que Deus deseja tem de ser realizado. Ele
enfatizou que os homens deviam ouvir os mandamentos que estava dando naquele
momento (“estes mandamentos”, v.19). Prosseguiu depois citando diversos mandamentos
do Antigo Testamento, em cada caso desviando a atenção do exteriorismo literalista. Ao
contrário, salientou aquilo que Deus está procurando. Desta forma, restabeleceu a lei como
expressão da vontade de Deus, como mandamento direto de Deus para o seu povo numa
situação real. Portanto, quem lê um mandamento registrado precisa ver além da forma
imediata de palavras literais, a fim de ouvir o que Deus está dizendo agora.
A justiça dos escribas e fariseus é insuficiente, pois ninguém pode agradar a Deus por
aderir legalisticamente a um sistema exterior de regras. Aqueles que entram no reino dos
céus precisam sobrepujar esta justiça, o que lhes será possível se ouvirem e obedecerem as
ordens que procedem de Deus vivo. Assim podemos perceber que a lei como Deus a
pretende e a profecia diretiva é a mesma coisa, ou seja, a expressão da vontade de Deus
para agora. Não é nenhuma coincidência o fato de Moisés, o legislador, ter sido um profeta!
Isto tudo tem grandes implicações para o profeta de hoje. Ele não pode se esquivar
da sua função diretiva e administrativa. Não pode recuar de receber e expressar as ordens
de Deus para o seu povo, individual e coletivamente. Precisa falar com autoridade, sabendo
que o poder e a presença de Deus dão realidade e capacidade para aqueles que ouvem e
obedecem. Tem de estar saturado dos princípios das Escrituras (não em literalismo),
permitindo que estes condicionem suas atitudes de tal forma que fale da perspectiva de
Deus.
Além do profeta, o povo também deve ser profético. Devem encarnar e expressar a
Deus, pois ouvem e obedecem-no. Tornam-se a manifestação viva da sua vontade, pois
recebem e fazem essa vontade. Longe de viver por um código exterior de conduta, são
inteiramente dependentes da direção atual e viva de Deus para eles. A coerência das suas
vidas se baseia na coerência de Deus, e não numa estrutura exterior e legalista que
funciona como meio de controle.
Deus não pretende que seu povo viva por qualquer sistema de padrões éticos. Tal
sistema é humano e não divino, e sua operação é contrária a Deus, não sue favor. Falar de
uma “Ética Cristã” é usar termos contraditórios, pois a experiência cristã tem como centro
um relacionamento vivo com Cristo, não a observância de um sistema ético. Conhecer a
Deus é que é o importante, não o relacionar-se com ele através de um sistema de “faça” isto
e “não faça” aquilo. Jesus é, ele mesmo, o caminho; e é blasfêmia substituí-lo por um
sistema legalista como sendo o caminho para Deus.
... E A RESOSTA DO HOMEM
Agir, como cristão, é agir por uma ordem de Deus. O filho vê o pai agir e age
semelhantemente. Ele está à disposição de Deus. Ele não vive sua vida longe de Deus,
dentro de uma estrutura designada a mantê-lo sob controle. Ele conhece a Deus, ama-o e
age em correspondência. A idéia errônea (para usar uma palavra caridosa, pois a palavra
“engano” seria provavelmente mais adequada) que o homem se relaciona com Deus através
da obediência a uma ética cristã baseada principalmente no Sermão do Monte, tem
escravizado multidões.
É tão essencial que sejamos livres de todo e qualquer substituto da palavra de Deus
que ainda continuaremos a tratar deste assunto. A expressão bíblica que se usa no lugar de

“ética" é o ”conhecimento do bem e do mal”. Em Gênesis está claro que o homem foi
designado a viver no conhecimento do próprio Deus, e a conhecer outras coisas somente
dentro deste conhecimento. Ao entrar no conhecimento independente do bem e do mal, o
homem ficou preso, fechado dentro das limitações das suas próprias possibilidades,
separado de Deus.
DEUS COMO FONTE...
Deus é tem de ser a origem e a fonte contínua de tudo para o homem.Ma, através da
rebeldia, o homem se tornou sua própria fonte e origem. É precisamente por causa desta
independência, baseada na insistência do homem em manter seu direito de julgar e avaliar o
que é certo e errado, é que o homem foi impedido de viver para sempre. Como resultado da
rebeldia, há um senso de nudez, de autoconsciência e de alienação. O homem está só; só
tem a sim mesmo. Por esta razão a Bíblia enfatiza a necessidade de cobertura, de vestir-se.
As “vestes” finais do homem serão o seu corpo ressurreto.
Nem tampouco é vontade de Deus que o homem viva pela sua consciência. A
consciência envolve um senso negativista, e seu objetivo é capacitar o homem a viver em
paz consigo mesmo. Trata com o que é “proibido” ou, na melhor das hipóteses, como que é
“permitido”. Tem a ver com ações que sejam suficientemente claras e limpas para permitir a
auto-aceitação. Assim ela enfatiza o relacionamento do homem consigo mesmo e não com
Deus.
O fariseu é o grande exemplo bíblico da independência religiosa do homem. Ele é
uma antítese viva do profético. Sua vida era subordinada em tudo ao conhecimento do bem
e do mal. Julgava-se a si mesmo severamente. Agradecia constantemente a Deus pelo
próprio conhecimento independente do bem e do mal, que Deus condena. Cada momento
para ele era um momento de escolha entre o bem e o mal. Conseqüentemente, traçava o
seu percurso usando o sistema legal mais intricado jamais conhecido procurou prever toda
situação possível. E rejeitou o Deus encarnado.
Sempre os fariseus procuravam forçar Jesus a responder dentro da mesma estrutura
de constante conflito ético nba qual eles viviam. Sempre ele se recusava a dar a decisão e
os pareceres que exigiam. Ele não podia ser induzido a entrar neste conflito; rejeitava
conflitos para poder conhecer somente a vontade de Deus. Invariavelmente falava numa
base de unidade total com Deus. Suas palavras fluíam da origem, e estavam completamente
livres da independência humana.
... E A INDEPENDÊNCIA DO HOMEM
Assim Jesus recusou ser árbitro para decidir entre alternativas humanas. Negou a
própria existência de uma pluralidade de possibilidades numa determinada situação, pois
conhecia somente a vontade de Deus. Vivia dela como se fosse seu próprio alimento, o
sustento constante da sua vida. Condenava severamente o julgamento que é fruto do
conhecimento do bem e do mal. Com a mesma totalidade, repudiou a validade de uma ação
independente de Deus. Toda ação independente é um julgamento de outro homem. Julgar é
a característica essencial do homem independente. Ele julga suas próprias ações e as dos
outros, em cada pensamento, palavra e ação.
Que contraste absoluto entre a encarnação viva de Deus e toda essa atividade
independente do homem! Quão vasto é o contraste entre o profético e o religioso! É o
profeta o homem capaz de expor as sutilezas da independência. É o profeta que pode


implantar a realidade do Deus vivo. Ele nos levará para longe da árvore do conhecimento do
bem e do mal e nos fará comer da árvore da vida.
Agora, ele já está concebendo dentro de si um povo que morreu para toda
independência. Um povo que ressuscitou com Cristo para viver na sua ressurreição. Um
povo para quem a voz de Deus é constante e real, e para quem a lei e a profecia se uniram
outra vê como uma só coisa. Ouvem a voz de Deus dia após dia. Conhecem a todo o tempo
o que o Espírito está dizendo às igrejas. Ouvem e obedecem com uma obediência criativa
de fé. Não são introspectivos nem julgadores. Conhecem somente a Deus.
Este livreto foi traduzido de uma série de artigos publicados originalmente nos
números 6 e 4 da revista “Proclaim”.
Os direitos autorais pertencem a:
Andrew McFarlane,
113 Springwood
Llandeyrn, Cardiff CF2 6UE

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